Em declarações no âmbito da reunião técnica da Iniciativa para a Eliminação da Malária no Sahel (SaME, na sigla em inglês), que arrancou hoje na Praia, o secretário de Estado-Adjunto da ministra da Saúde, Evandro Monteiro, apontou a necessidade de Cabo Verde reforçar "a vigilância e todo o trabalho investigativo", enquanto país "que faz parte de uma região onde se acumulam mais de 90% dos casos" de malária.
O governante referiu-se de igual modo à necessidade de "reforço da capacidade técnica em Cabo Verde de uma forma atempada", de "reforçar também em tecnologias novas para abordagem sanitária, no sentido de potenciais focos de mosquito", e de "fazer todo o tratamento ligado à própria investigação em saúde, no que tange à resistência de inseticidas ao vetor existente em Cabo Verde", afirmando que se trata de "todo um trabalho conjunto", em declarações à margem da abertura da reunião, que decorre até 31 de março.
Sobre a situação de Cabo Verde, o secretário de Estado-Adjunto afirmou que o país está há mais de cinco anos sem ter casos autóctones de malária - e aguarda a certificação internacional -, mas continua a ter casos importados, o que considerou ser uma preocupação constante.
Este encontro visa preparar a quinta reunião do fórum ministerial SaME, que vai decorrer à margem da próxima assembleia de ministros da Saúde da região, provisoriamente agendada para maio de 2023, na Guiné-Bissau, e que, segundo o secretário de Estado, vai permitir "delinear" caminhos para a próxima cimeira.
"Um dos objetivos aqui é ter um plano a nível do Sahel, que representa 90% dos casos da malária a nível mundial, com um plano de extensão até 2030", visando, "logicamente, por um lado, a diminuição do número dos casos, por outro lado, o reflexo disso que seria a mortalidade ligada ao paludismo [malária] (...). É um trabalho árduo e há que haver uma coordenação muito intensa, importante e politicamente assumida no sentido de criarmos caminhos adequados, sustentáveis no tempo para que de facto possamos driblar esse problema a nível do nosso continente, da nossa sub-região", afirmou Evandro Monteiro.
O momebro do Governo recordou ainda que em 2018 a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os Estados-membros demonstraram "muita" preocupação com a estagnação dos processos globais de luta contra a malária, com o número de "casos a aumentar a nível mundial, e em particular no continente africano".
"As estimativas da OMS apontam que em 2021 cerca de 95% dos casos estimados de paludismo a nível global, foram registados apenas na região africana da OMS. Foram cerca de 234 milhões de casos, que infelizmente resultaram em mais de 590 mil mortes. São números que continuam demasiadamente esquecidos e que prematuramente ceifam demasiadas vidas", realçou Evandro Monteiro, afirmando que a malária continua a ser um "grande" problema de saúde pública regional e um entrave direto à segurança sanitária, populacional e de desenvolvimento dos países.
A reunião da Praia junta cerca de 50 participantes oriundos dos oitos Estados-membros desta iniciativa, cuja presidência é assumida por Cabo Verde desde 2018.
A iniciativa SaME foi lançada em 31 de agosto de 2018, em Dacar, no Senegal, pelos ministros da Saúde dos oito países da região do Sahel (Burquina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal e Chade), com o objetivo de acelerar os esforços no sentido da eliminação da malária na região até 2030, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assim como com a Estratégia Técnica Global para a Malária 2016-2030 da OMS.
A ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, anunciou em 21 de março a apresentação de novos pedidos de financiamento ao Fundo Global para fortalecimento do Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente no combate e prevenção da transmissão da malária, VIH/Sida e tuberculose.
O Fundo Global alocou 4,7 milhões de dólares (4,4 milhões de euros) para financiar até 2025, nomeadamente, programas de combate ao VIH/Sida, tuberculose e malária em Cabo Verde, segundo a planificação da instituição internacional noticiada anteriormente pela Lusa.
A maior parcela da verba alocada pela instituição para o período de 2023 a 2025 será para financiar programas de combate ao VIH/Sida, com 2,99 milhões de dólares (2,7 milhões de euros), seguido da malária, com 1,21 milhões de dólares (1,1 milhões de euros), e da tuberculose, com 500 mil dólares (470 mil euros), um valor semelhante ao atribuído de 2020 a 2022.
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