Grupo opositor do Kremlin reivindica atentado contra blogger russo

O Exército Nacional Republicano (NRA) russo, um grupo opositor do Kremlin, reivindicou hoje o atentado à bomba que no domingo vitimou o conhecido 'blogger' militar russo Vladlen Tatarsky.

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Lusa
04/04/2023 21:26 ‧ 04/04/2023 por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

"Esta ação foi efetuada por nós de forma autónoma. Não mantemos contacto nem recebemos ajuda de nenhuma estrutura estrangeira ou de serviços secretos", assinalou a célula do NRA em São Petersburgo em mensagem no canal Telegram Rospartizan.

A nota recorda que Tatarsky, pseudónimo de Maxime Formin, era um "instigador da guerra e um criminoso de guerra" e o café onde ocorreu a explosão era propriedade do chefe do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, que descrevem como "um dos mais famosos bandidos russos".

O NRA assegura que o atentado não visava civis e que todos os feridos são apoiantes da campanha militar russa na Ucrânia e justificam "os crimes de guerra do regime de [Vladimir] Putin (Presidente russo) na Ucrânia".

O comunicado nega que Daria Trepova - principal suspeita do atentado segundo o Comité Nacional Antiterrorista russo - tenha alguma relação com a explosão.

"Apelamos a todos os cidadãos russos que sigam o nosso exemplo e oponham todo o tipo de resistência ao regime criminoso russo, até à sua completa destruição. Os criminosos não se sentirão seguros em território russo. A Rússia será livre!", conclui a mensagem, também divulgada pelo exilado político russo Ilia Ponomariov, o único deputado que votou contra a anexação da península da Crimeia, concretizada em 2014.

O Comité Nacional Antiterrorista responsabilizou pelo atentado os serviços secretos ucranianos, que supostamente terão utilizado pessoas próximas do ilegalizado Fundo de Luta Contra a Corrupção (FBK) do opositor russo Alexey Navalny, atualmente detido.

Segundo o Comité, Trepova era uma "ativa partidária" do FBK, que durante anos denunciou a corrupção na administração pública.

Trepova já tinha sido condenada a dez dias de prisão em fevereiro de 2022 por uma ação não autorizada contra a guerra na Ucrânia.

O Comité de Investigação da Rússia acusou hoje Trepova de cometer um atentado terrorista com um engenho explosivo e por intermédio de um grupo organizado, que poderá implicar 20 anos de prisão, permanecendo em prisão preventiva durante dois meses.

Na segunda-feira Trepova, 26 anos, reconheceu que entregou a estatueta que provocou a explosão num café de São Petersburgo, na sequência de um vídeo do interrogatório divulgado pelo ministério do Interior.

Trepova entregou supostamente a estatueta a Tatarsky, 40 anos, com um explosivo no seu interior que terá sido ativado por controlo remoto.

O assassinato do 'blogger' recorda o atentado quem em agosto de 2022 matou Daria Dugina, filha do intelectual ultranacionalista Alexandr Dugin, considerado próximo do Kremlin.

O NRA também reivindicou este atentado, apesar de as autoridades russas terem acusado os serviços secretos ucranianos de envolvimento, o que Kyiv negou.

O presidente russo Vladimir Putin condecorou postumamente Tatarsky na segunda-feira, com a Ordem do Valor, à semelhança do que fez com Dugina.

Tatarsky nasceu na região do Donetsk, leste da Ucrânia e de maioria russófona, e em 2014 esteve integrado nas milícias separatistas pró-russas que combatiam o Exército de Kiev.

O 'blogger', que tinha mais de 560.000 subscritores no seu canal do Telegram, ficou conhecido em setembro de 2022 quando no Kremlin, após assistir a um discurso do Presidente russo, Vladimir Putin, assegurou: "Vamos derrotá-los a todos [os ucranianos], matá-los a todos, roubaremos todos os que quisermos".

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa -- justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia -- foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.451 civis mortos e 14.156 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

Leia Também: Suspeita de explosão que matou blogger russo ouvida hoje em tribunal

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