Esta decisão resulta do facto de vários parlamentares estarem preocupados que o governo não fosse capaz de assegurar o financiamento necessário a tempo para realizar as eleições municipais.
Esta medida ocorre numa altura em que a economia e as infraestruturas do Líbano continuam a desmoronar-se, com os legisladores no parlamento profundamente divididos, incapazes de chegar a um acordo para pôr fim a um vazio presidencial durante quase seis meses.
As eleições municipais libanesas foram originalmente previstas para maio de 2022, mas foram adiadas por um ano porque coincidiram com as eleições parlamentares, que fizeram eleger vários membros reformistas.
Os grupos da oposição e de pendor reformista provavelmente iriam conquistar mais lugares caso fossem realizadas eleições locais, uma vez que as condições de vida no país continuam a deteriorar-se.
Assim, apelaram à realização de eleições municipais em maio como estava previsto, mas a maioria parlamentar boicotou a pretensão.
O Líbano está sem um governo em pleno funcionamento há quase um ano, com o primeiro-ministro, Najib Mikati, a chefiar um gabinete de gestão com funções limitadas. O país também se encontra numa grave crise económica desde finais de 2019, com três quartos da população a viver agora na pobreza.
Por outro lado, a polícia de choque lançou hoje gás lacrimogéneo a centenas de soldados reformados que derrubaram uma vedação de arame farpado perto da sede do governo, no centro de Beirute. Os manifestantes queimaram pneus, enquanto dezenas de polícias e soldados do exército rodearam a área governamental.
Os militares reformados têm vindo a protestar frequentemente contra as condições económicas desastrosas do país e contra os aumentos salariais e de pensões que se ajustam à inflação galopante do país.
Antes do valor da moeda nacional ter entrado numa espiral no final de 2019, o salário mínimo mensal do país era de 675 mil libras (libanesas) - cerca de 450 dólares - mas hoje vale menos de 7 dólares.
O gabinete de Mikati concordou hoje em aumentar o salário mínimo mensal do setor privado de 2,6 milhões para 9 milhões de libras, no valor de 92,50 dólares à taxa do mercado negro do país, que domina o mercado.
Também foi aumentado a taxa de câmbio utilizada para calcular as taxas aduaneiras de 30 mil libras para o dólar, para a plataforma Sayrafa do banco central, onde o dólar é avaliado em 86.700 libras.
No início do mês, o ministro do Interior Bassam Mawlawi, cujo ministério supervisiona as eleições, disse que o Líbano estava pronto para realizar eleições municipais no tempo previsto, e que tinha assegurado o financiamento da União Europeia e das Nações Unidas para aliviar o peso do orçamento do país.
O Presidente adjunto, Elias Bou Saab, considerou contudo que a realização da votação a tempo seria "impossível" por atrasos no financiamento das mesmas.
As últimas eleições municipais do Líbano efetuaram-se em 2016 e registaram uma baixa afluência às urnas. Em Beirute houve uma afluência de 20% dos eleitores, enquanto essa afluência foi de 48% em Baalbek, perto da fronteira síria.
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