O presidente do Brasil, Lula da Silva, afirmou, este sábado, que veio a Portugal porque foi "convidado" e não para "entrar na polémica com o Parlamento português". Numa entrevista à RTP, o líder brasileiro recordou ainda o tempo em que cumpriu pena de prisão por acusações de corrupção e comentou as recentes críticas de que tem sido alvo pela sua atitude em relação à invasão russa da Ucrânia.
“Em Portugal, também me parece que há uma certa polarização de um lado mais extremista de direita contra os outros partidos políticos”, referiu, quando questionado sobre como reagiu à polémica que envolve a sua vinda a Portugal e à Assembleia da República no 25 de Abril.
“Eu não vim aqui para entrar na polémica com o Parlamento português. Eu vim aqui convidado para fazer uma tarefa, para cumprir uma agenda e vou cumpri-la, sem problema”, acrescentou.
O presidente do Brasil reconheceu também que “as pessoas não são obrigadas a gostar do Lula”, a “gostar do presidente do Lula”. “O que é importante é que as pessoas respeitem apenas as instituições do seu país e respeitem as autoridades dos outros países”, acrescentou, sublinhando que “não tem nenhuma preocupação” e está “muito tranquilo”.
“Vim a Portugal e virei outra vez, porque gosto de Portugal. Portugal é importante para o Brasil. O Brasil é importante para Portugal e não vai ser uma oposição que vai impedir que eu venha a Portugal”, atirou.
Na entrevista à RTP, Lula da Silva começou por dizer que foi “vítima da mais grave mentira contada na política brasileira”, por ter sido condenado a pena de prisão por acusações de corrupção.
“Eu fui vítima, possivelmente, da mais grave mentira contada na política brasileira. Foi uma tentativa de me tirar da eleição”, disse, acrescentando que “aproveitou” o tempo em que esteve preso para “fazer um exercício de paciência e consciência” porque “tinha muita certeza que voltaria a ser Presidente da República”.
Lula da Silva “tinha vontade de voltar a ser presidente” para “consertar o Brasil”, após o país ter sido “desmontado” pelo governo do Partido Liberal, de Jair Bolsonaro.
Sobre a corrupção, Lula da Silva afirma que tem sido “utilizada como instrumento de combate eleitoral em quase todas as eleições brasileiras”.
Fazendo um balanço às eleições de outubro do ano passado, Lula da Silva considerou que as mesmas correram “extremamente bem” e que as “instituições democráticas funcionaram bem”, apesar de ter havido “muito abuso de recursos nas eleições”.
“Houve um abuso que nunca houve na história do Brasil para se tentar ganhar uma eleição”, afirmou, acrescentando que agora o seu governo está a tentar “fortalecer as instituições”.
Questionado sobre a polarização do povo brasileiro, Lula garantiu que tal deve ser “usada para conversar” com todas as classes sociais e afirmou que desde que tomou posse recuperou “todas as políticas de inclusão social”.
“Queremos que o povo brasileiro volte a ser aquele povo generoso que sempre foi, que gosta de música, que gosta de futebol, que gosta de ser alegre. E que perdeu isso por conta de um presidente fascista que governou o país durante quatro nos”, atirou.
Ucrânia? Brasil "não tem posição ambígua", mas sim "decisão muito clara"
Em relação à posição do Brasil em relação à invasão russa da Ucrânia, Lula rejeitou que o país tenha uma “posição ambígua”, mas sim uma “decisão muito clara”: “O Brasil condenou a Rússia por invadir o espaço territorial da Ucrânia. Ponto”.
“O Brasil não quer alinhar-se à guerra. O Brasil quer alinhar-se a um conjunto de países que precisa de construir a paz. Se toda a gente se envolve diretamente na guerra, quem é que vai conversar sobre paz? Quem é que vai conversar com os governos que estão em guerra?”, questionou.
O presidente brasileiro afirmou que acredita que a “guerra não é infinita” e que “um dia terá de acabar”, mas, ressalvou, “só vai acabar se os países do mundo resolverem discutir com os dois países que estão em guerra”.
“Tentar achar que a Ucrânia vai ceder é impossível. Tentar achar que o Putin vai ceder é impossível”, sublinhou, acrescentando que a “guerra não é a melhor maneira para resolver os problemas entre a Ucrânia e a Rússia.
Na ótica de Lula da Silva, está na altura de os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE) “começarem a falar em paz”. “A palavra paz desapareceu”, lamentou.
Questionado sobre a violação de direitos humanos na China, que visitou recentemente, o presidente brasileiro sublinhou que “todos os países do mundo têm problemas”, mas o país asiático “encontrou um jeito de se tornar a primeira economia do mundo”.
“Podemos não concordar com o regime chinês, como eles podem não concordar com o do Brasil. É o jeito de fazer política”, sustentou.
Sublinhe-se que o presidente do Brasil chegou na sexta-feira a Lisboa, para uma visita de Estado a convite do chefe de Estado português, cujo programa oficial começou hoje e termina na terça-feira de manhã.
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