Num comunicado, a Guarda Costeira tunisina indicou que os cadáveres, vários deles "em decomposição", apareceram nas praias de Kerkennah, Sfax, Mahdia e Gabes, dando expressão ainda maior ao ano mais mortífero de migrantes que seguem desde 2017 a rota para a Europa, contando-se atualmente 440 mortes desde o início do ano.
Domingo, o Crescente Vermelho líbio recuperou mais 17 corpos de migrantes nas praias da cidade de Sabrata, no noroeste da Líbia, depois de a embarcação precária ter afundado em condições meteorológicas desfavoráveis.
A melhoria das condições meteorológicas, porém, tornou possível a chegada de mais de 800 migrantes à ilha italiana de Lampedusa (Sicília) nas últimas horas, em 21 desembarques após quatro dias sem chegadas.
A maioria das embarcações partiu da cidade tunisina de Sfax e incluía, segundo resteunhas, cidadãos oriundos da Burkina Faso, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné Conacri, Mali, Nigéria, Senegal e Serra Leoa, bem como do Sudão, país assolado desde 15 deste mês com novo conflito armado.
Desde janeiro, mais de 35.000 pessoas, quase quatro vezes mais do que em 2022, chegaram às costas italianas, o que levou o governo da extrema-direita Giorgia Meloni a decretar o estado de emergência a 11 deste mês.
Segundo dados divulgados hoje pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), os principais pontos de partida são a Tunísia (19.247 migrantes), seguida da Líbia (15.509) e da Turquia (1.247).
O Parlamento Europeu avançou um plano de emergência que obrigará os 27 Estados membros a cooperar no caso de a capacidade de acolhimento de um país parceiro ser assolada pela chegada "repentina e maciça" de requerentes de asilo e de migrantes, sendo obrigado, no prazo de um ano, a reformar o sistema de asilo.
Em janeiro e fevereiro deste ano foram apresentados mais de 19.000 pedidos de asilo, contra 8.160 pedidos registados no mesmo período em 2022.
"Com mais de 20.000 mortes registadas nesta via desde 2014, é de temer que estas mortes se tenham normalizado", alertou a Organização Internacional para as Migrações (OIM), que realçou o papel importante de várias organizações de defesa e promoção dos direitos humanos.
Quinta-feira, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou para a situação precária dos requerentes de asilo e dos migrantes e apelou a que sejam resgatado, obtendo um "tratamento digno, eficaz e pleno num local seguro".
A Líbia é considerada um país inseguro para o regresso dos migrantes e as organizações de direitos humanos denunciaram recentemente que a "extrema violência e perseguição" exercida pelas autoridades tunisinas também não garantem a proteção dos migrantes regressados dos resgates no Mediterrâneo Central.
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