Antonio Lela Huno Cruz, presidente do PVT, disse em entrevista à Lusa que o partido se inspira "no movimento verde mundial e nos partidos ecologistas em todo o mundo", preocupado com "as alterações climáticas, o ambiente e a sustentabilidade da economia".
O PVT, disse, aposta ainda numa agenda que "dá a prioridade a combater o desemprego da juventude", explicando que é entre esse grupo social, o de jovens desempregados, que o partido tem a sua maior força.
Somam-se, explicou, deficientes, profissionais, elementos de algumas 'uma lisan' (que representa o equivalente a clãs na estrutura tradicional timorense) e "cerca de 80%" dos grupos do "movimento de artes rituais e culturais" conhecido como 77.
O 77 está, normalmente, integrado entre os grupos de artes marciais do país que regularmente são apontados como um dos fatores de instabilidade social.
"O grupo 77 de artes rituais e culturais existe desde o tempo da ocupação indonésia. São grupos da resistência. Eu sou membro do 77 desde 1996 e agora estou a trabalhar para convencer a família das artes culturais para a prática ecológica, ligada à natureza, aos princípios de preservar ambiente", explicou.
Defende clara separação entre artes marciais ou rituais e os partidos e considera que o problema não são as artes marciais, mas o facto de que "os jovens não têm esperança no futuro, não têm emprego ou oportunidades de explorar as suas capacidades para contribuir para o país, para o desenvolvimento".
Estes apoios, garante, levam a que o PVT tenha "52 mil membros registados na sua base de dados", o que lhe dá "confiança a 100%", de que o partido não só ultrapassará a barreira mínima de elegibilidade (4% dos votos válidos), mas que chegará mesmo a ser a terceira força parlamentar. Já tem até "embaixadores" em Portugal e no Reino Unido.
"O processo de consolidação que levamos a cabo, conferências e a campanha eleitoral dá-me total confiança. Vamos ser um novo interveniente político", disse.
Lela Huno disse que o PVT é uma força "inspirada no movimento verde mundial, dos partidos ecologistas em todo o mundo, na Europa e Ásia e Pacífico, preocupa-se com mudanças climáticas, o planeta e sustentabilidade da economia.
O presidente do PVT, registado em 24 de abril de 2022, recusa-se a dizer a qual dos dois maiores partidos -- Fretilin e CNRT -- daria apoio na formação de Governo, explicando que não se quer "envolver nas contradições políticas entre os dois grandes".
Nas presidenciais de 2022, o PVT apoiou formalmente a recandidatura do ex-Presidente Francisco Guterres Lú-Olo, derrotado na segunda volta das presidenciais, ainda que elementos do 77 tenham surgido na campanha do Presidente José Ramos-Horta.
O candidato disse que prefere estar "concentrado na agenda política que os apoiantes comungam", com propostas que reafirmam a vontade de responder às "preocupações com as condições sociais, económicas, ambientais e políticas do país".
"Concentramos toda a energia na governação. O funcionamento do Governo tem impacto na situação do país. E por isso defendemos um projeto de modernização da governação central e da administração pública em Timor-Leste", disse.
Afirmou que os governos anteriores e o atual deixaram um executivo pouco organizado, com "excessiva burocracia, abuso de poder, politização da administração pública e pouca eficácia", o que levou "o público a perder a confiança no Governo".
E-government, revitalização da governação, descentralização e melhorias da gestão do orçamento são outras propostas do PVT que quer "reduzir a dependência no petróleo", o que cria "graves problemas para a sustentabilidade fiscal" do Orçamento do Estado.
Descentralização "administrativa, política e financeira", é outro aspeto essencial do programa que quer concretizar as sucessivas promessas de diversificação económica, "começando pelo que emprega a maior fatia da população, a agricultura".
Neste campo em concreto defende um modelo de desenvolvimento" assente em parcerias público privadas, com o Governo a ter "um papel de controlo e fiscalização, incluindo de crédito para o setor privado", as cooperativas agrícolas concentradas na produção e o setor privado "a explorar o processamento de produtos agrícolas".
"Queremos ver parques agroindustriais nesta colaboração", disse.
No caso do turismo, o PVT quer transformar a ilha de Ataúro -- reconhecida já pela sua única biodiversidade -- num "ícone do ecoturismo", com um plano mestre para desenvolver a região, apostando igualmente, "inspirados em Fátima", no turismo religioso, tendo como vértices "o Cristo Rei em Díli e o Monte Ramelau com N. Senhora".
O dirigente questionou igualmente as políticas dos veteranos, considerando essencial criar sustentabilidade no sistema que "dando pensões todos os meses coloca em risco os fundos do Governo", apostando em ajudar os veteranos a criar empresas que sejam sustentáveis.
E está contra a pensão vitalícia para titulares de órgãos de soberania, explicando que, por isso, os deputados do PVT que sejam eleitos, "serão rodados a meio do mandato" para não receberem esse direito.
Sobre o tema da transição política geracional, Lela Huno diz que "não se entrega de bandeja, prepara-se e conquista-se", vincando que "o poder está na mão do povo", que o país "vai continuar com ou sem os avós" e que Timor-Leste "não depende de uma ou outra figura".
"Timor-Leste é permanente. Não estou preocupado se os mais velhos partem, porque o país fica. É a dinâmica democrática: os velhos partem, entram os jovens. O importante é ter jovens preparados e que tenham legitimidade popular", afirmou.
"Isto não se entrega de bandeja de um para o outro, porque se isso acontecer sem legitimidade democrática também não serve. Por isso queremos confiar na legitimidade democrática. E fazemos isso com votos. A geração jovem está no palco político, tem capacidade, vai apresentar as suas propostas e a decisão é dos cidadãos", afirmou.
Leia Também: Coincidência de comícios de maiores partidos de Timor-Leste gera polémica