Palestina acusa von der Leyen de declarações racistas sobre o "deserto"

A presidente da Comissão Europeia elogiou Israel no seu dia de independência, usando expressões consideradas discriminatórias pelo povo árabe e, em particular, pelas autoridades palestinianas.

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Hélio Carvalho
27/04/2023 08:23 ‧ 27/04/2023 por Hélio Carvalho

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Palestina

A Autoridade Palestiniana exigiu na quarta-feira que a presidente da Comissão Europeia pedisse desculpas ao povo da região, depois da divulgação de um vídeo no qual Ursula von der Leyen disse que Israel "fez o deserto florescer", considerando que a líder alemã ignorou a presença de uma civilização antes da independência israelita.

Através do Twitter, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina "rejeitou as declarações inapropriadas, falsas e discriminatórias", acusando a expressão sobre o deserto de ser um "preconceito anti-palestiniano racista em relação aos 75 anos de projeto colonial de Israel de continuada desapropriação e despejo do povo palestiniano e da sua terra".

A criação do estado de Israel foi comemorada na quarta-feira e von der Leyen, que já tem sido criticada pelo mundo árabe devido à sua afinidade com o governo do país, evocou a história do povo judaico após a "maior tragédia" e a "liberdade" criada na região.

"Vocês literalmente fizeram o deserto florescer", disse.

Os palestinianos denunciam que esta expressão tem sido usada por várias autoridades israelitas para referir que, antes da presença israelita, o local não tinha pessoas - algo longe de ser verdade, já que vários historiadores apontam que a região é uma das mais férteis do globo, e Ramallah tem tido uma maior percentagem de precipitação do que cidades como Paris. Os israelitas, no entanto, reivindicam que a região apenas começou a tornar-se numa zona próspera após a implementação do seu estado.

Antes da criação de Israel, em 1948, a região era ocupada em grande parte pelo povo palestiniano, sendo que a independência do país (com o apoio dos Estados Unidos e de vários países europeus) despoletou várias guerras desde então. Atualmente, o estado israelita ocupa a grande maioria dos territórios palestinianos e restringe a circulação e vida social dessa população, com a própria Organização das Nações Unidas (ONU) a condenar a prática de colonatos e de expropriação sistémica de terras como uma forma de Israel diluir a presença palestiniana no território, e como um grave ataque aos direitos humanos.

A independência de Israel, após a guerra Israelo-Árabe de 1948, causou o que os palestinianos chamam de Nakba, quando cerca de 800 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas pelas forças israelitas - com as várias gerações que sobreviveram a acabarem enclausuradas na Faixa de Gaza.

Para a Autoridade Palestiniana - uma espécie de governo não reconhecido que gere os territórios ainda detidos por uma maioria palestiniana -, a utilização das expressões por Ursula von der Leyen são uma "retórica anti-palestiniana, que minam a posição da União Europeia e lança sérias dúvidas sobre o seu comprometimento declarado pela lei internacional e pelos direitos humanos".

"A presidente Ursula von der Leyen deve um pedido de desculpa aos cidadãos europeus e ao povo palestiniano", rematou a autoridade.

Leia Também: Cidade de Liège suspende relações com Israel em apoio à Palestina

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