A Autoridade Palestiniana exigiu na quarta-feira que a presidente da Comissão Europeia pedisse desculpas ao povo da região, depois da divulgação de um vídeo no qual Ursula von der Leyen disse que Israel "fez o deserto florescer", considerando que a líder alemã ignorou a presença de uma civilização antes da independência israelita.
Através do Twitter, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina "rejeitou as declarações inapropriadas, falsas e discriminatórias", acusando a expressão sobre o deserto de ser um "preconceito anti-palestiniano racista em relação aos 75 anos de projeto colonial de Israel de continuada desapropriação e despejo do povo palestiniano e da sua terra".
A criação do estado de Israel foi comemorada na quarta-feira e von der Leyen, que já tem sido criticada pelo mundo árabe devido à sua afinidade com o governo do país, evocou a história do povo judaico após a "maior tragédia" e a "liberdade" criada na região.
The State of Palestine rejects the inappropriate, false, and discriminatory remarks by the President of the European Commission, Ursula von der Leyen, particularly the “make the desert bloom” anti-Palestinian racist trope; pic.twitter.com/9cMbagKPhi
— State of Palestine - MFA 🇵🇸🇵🇸 (@pmofa) April 26, 2023
"Vocês literalmente fizeram o deserto florescer", disse.
Os palestinianos denunciam que esta expressão tem sido usada por várias autoridades israelitas para referir que, antes da presença israelita, o local não tinha pessoas - algo longe de ser verdade, já que vários historiadores apontam que a região é uma das mais férteis do globo, e Ramallah tem tido uma maior percentagem de precipitação do que cidades como Paris. Os israelitas, no entanto, reivindicam que a região apenas começou a tornar-se numa zona próspera após a implementação do seu estado.
Antes da criação de Israel, em 1948, a região era ocupada em grande parte pelo povo palestiniano, sendo que a independência do país (com o apoio dos Estados Unidos e de vários países europeus) despoletou várias guerras desde então. Atualmente, o estado israelita ocupa a grande maioria dos territórios palestinianos e restringe a circulação e vida social dessa população, com a própria Organização das Nações Unidas (ONU) a condenar a prática de colonatos e de expropriação sistémica de terras como uma forma de Israel diluir a presença palestiniana no território, e como um grave ataque aos direitos humanos.
A independência de Israel, após a guerra Israelo-Árabe de 1948, causou o que os palestinianos chamam de Nakba, quando cerca de 800 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas pelas forças israelitas - com as várias gerações que sobreviveram a acabarem enclausuradas na Faixa de Gaza.
Today we celebrate 75 years of Israel's independence and friendship with Europe.
— EU in Israel 🇪🇺🇮🇱 (@EUinIsrael) April 26, 2023
A special message from President of the European Commission Ursula von der Leyen: pic.twitter.com/TCi7GpfQWm
Para a Autoridade Palestiniana - uma espécie de governo não reconhecido que gere os territórios ainda detidos por uma maioria palestiniana -, a utilização das expressões por Ursula von der Leyen são uma "retórica anti-palestiniana, que minam a posição da União Europeia e lança sérias dúvidas sobre o seu comprometimento declarado pela lei internacional e pelos direitos humanos".
"A presidente Ursula von der Leyen deve um pedido de desculpa aos cidadãos europeus e ao povo palestiniano", rematou a autoridade.
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