Com o lançamento do vídeo eleitoral na terça-feira, Biden -- de 80 anos - cumpriu a promessa que vinha fazendo há meses, de procurar a reeleição em novembro de 2024 e os principais Democratas permaneceram solidamente unidos em torno do Presidente, apesar dos seus baixos índices de popularidade e de muitos norte-americanos dizerem que preferiam não o ver a disputar mais quatro anos na Casa Branca.
Eis alguns pontos essenciais sobre o que esperar de Biden após o anúncio da recandidatura:
Angariação de fundos
Um anúncio formal de reeleição significa que o Presidente pode agora arrecadar dinheiro diretamente para a sua campanha.
Permite-lhe uma mudança nos seus discursos em eventos de doadores que beneficiam o Comité Nacional Democrata ou outros grupos políticos externos em que tem participado desde que chegou à Casa Branca, em 2021.
Biden gastará fundos de campanha em salários e logística, construindo uma equipa para 2024 e realizando eventos fora do seu calendário presidencial oficial.
O chefe de Estado planeia jantar em Washington hoje com os seus principais doadores e líderes do Comité Nacional Democrata, prestando especial atenção àqueles que 'assinam' os maiores 'cheques' para garantir que a sua campanha de reeleição continue bem financiada.
Alguns doadores e organizadores do partido vinham manifestando alguma ansiedade nos últimos meses face à falta de movimento na frente da reeleição, e o anúncio, seguido pela reunião de hoje, permitirá que o Presidente os tranquilize.
O anúncio de Biden na terça-feira ocorreu precisamente no dia em que se cumpriram quatro anos desde que lançou a campanha eleitoral que o levou à Casa Branca, após derrotar Donald Trump no sufrágio de 2020.
Impacto do fator idade
Biden é o Presidente mais velho da história dos Estados Unidos e completaria 86 anos no final de um eventual segundo mandato.
O Democrata reconheceu que a idade é uma preocupação "legítima", mas desvalorizou as perguntas sobre se terá resistência para outra campanha e para mais quatro anos na Casa Branca.
Os eleitores terão agora a oportunidade de observar o desempenho de Biden -- mas é improvável que essas questões desapareçam.
Os Republicanos frequentemente destacam a idade de Biden, e até mesmo alguns Democratas questionam se o Presidente está a cumprir as promessas que fez durante a campanha de 2020 de ser uma "ponte" para uma nova geração de líderes políticos.
A candidata Republicana à Presidência e ex-embaixadora junto das Nações Unidas (ONU) Nikki Haley pediu testes de competência mental para candidatos com mais de 75 anos - uma categoria que incluiria Biden e Trump, que anunciou a sua própria campanha para 2024 em novembro passado.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, ignorou o pedido desses testes, observando que Biden ajudou a levar os Democratas a um resultado surpreendentemente positivo nas eleições intercalares de novembro.
Procurar a reeleição vai mudar a forma como Biden lida com a Presidência?
Não haverá grandes mudanças, insistem os assessores de Biden, pelo menos por enquanto.
O chefe de Estado recebeu esta semana na Casa Branca o homólogo sul-coreano, Yoon Suk Yeol, e planeia viagens ao exterior no final deste verão.
Como fez nos últimos meses, Biden também continuará a percorrer o país, com foco no mercado interno, para destacar legislação que o seu Governo ajudou a aprovar no Congresso.
Biden já visitou muitas partes do país, dando destaque a um pacote bipartidário de obras públicas que ajudará a reparar estradas, pontes, portos e túneis, ao aumento dos gastos federais aprovados como parte de outra legislação que ajudará a reduzir os preços dos medicamentos prescritos, e a melhorar o acesso à internet de banda larga em zonas rurais.
De agora em diante, a distinção entre ações presidenciais e a campanha política do Presidente deverá tornar-se cada vez mais ténue.
Desde as semanas que antecederam as eleições intercalares, Biden frequentemente denunciou o movimento "MAGA", o icónico 'slogan' de campanha de Donald Trump 'Make America Great Again' [Tornar a América Grande de Novo], classificando-o de uma ameaça à Democracia do país, mensagem que continuará a defender quando a corrida eleitoral de 2024 começar a subir de tom.
Biden terá de concorrer à nomeação dos Democratas?
Provavelmente não, uma vez que Biden parece não ter grande oposição, após potenciais rivais no partido descartarem concorrer.
Apenas duas figuras do partido declararam a sua intenção desafiar o Presidente: o advogado ambiental e ativista anti-vacinas Robert F. Kennedy, sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy (1961-1963); e a autora de livros de autoajuda Marianne Williamson.
O Comité Nacional Democrata está tão comprometido com Biden este ano que não planeia sequer agendar debates para as primárias do partido, poupando o Presidente a dividir o palco com Williamson, Kennedy ou qualquer outro adversário potencial.
Também beneficia Biden o facto de a Carolina do Sul ter destronado o Iowa na lista de estados que darão o "pontapé de partida" para as primárias Democratas.
Após ter perdido as três primeiras disputas, Biden conseguiu reavivar a sua campanha de 2020 com uma vitória expressiva nas primárias da Carolina do Sul, tendo pedido pessoalmente que esse estado fosse o primeiro em 2024 - solidificando a sua popularidade entre os Democratas daquela região.
Uma sondagem da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research na semana passada indicou que apenas 26% dos norte-americanos - e apenas cerca de metade dos Democratas - queriam ver Biden novamente a concorrer à Casa Branca. Mas a sondagem apontou que 81% dos Democratas provavelmente apoiariam o Presidente numa eleição geral.
Quem será o adversário Republicano de Biden?
Até ao momento, Donald Trump é o principal candidato Republicano de 2024, abrindo assim a posibilidade de uma repetição do cenário de 2020, quando Biden e Trump se defrontaram pela primeira vez.
Trump foi o primeiro a anunciar a candidatura para 2024, em novembro passado, apesar de estar envolvido em vários problemas legais e de já ter sido formalmente acusado num processo criminal em Nova Iorque.
Além de Trump, há já outros cinco candidatos do lado Republicano: a ex-embaixadora norte-americana junto da ONU Nikki Haley, o empresário Vivek Ramaswamy, o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson, o radialista conservador Larry Elder e o empresário Perry Johnson.
Outros políticos conservadores também deram a entender que estão interessados em concorrer, como o governador da Florida, Ron DeSantis, ou o ex-vice-presidente de Trump, Mike Pence, embora até agora nenhum tenha dado esse passo.
A equipa política de Biden prepara-se há meses para enfrentar Trump novamente. Mas mesmo que uma alternativa como DeSantis ganhe a nomeação Republicana, as críticas ao extremismo do movimento MAGA serão mantidas, já que muitos dos principais Republicanos concordam com Trump em questões políticas e sociais importantes, argumentam os assessores de Biden.
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