Quénia anuncia comissão para investigar morte por extremismo religioso
O Presidente do Quénia, William Ruto, anunciou hoje que vai criar uma comissão judicial para investigar a morte de pelo menos 109 fiéis de uma seita cristã que jejuaram até à morte para se "encontrarem com Jesus Cristo".
© YASUYOSHI CHIBA/AFP via Getty Images
Mundo Quénia
"Esta semana vou nomear uma comissão judicial para investigar e chegar ao fundo do que se passou em Shakahola com Mackenzie e todos os seus colaboradores", disse o Presidente, referindo-se aos crentes que foram encontrados mortos na quinta de Paul Mackenzie, na floresta de Shakahola, no condado de Kilifi, que servia também de sede da Igreja Internacional da Boa Nova.
"Vou manter consultas com os nossos líderes religiosos para criar um grupo de trabalho para podermos eliminar todas as personalidades que querem abusar da religião para gerir negócios e coisas que nada têm a ver com a religião", disse o Presidente do Quénia, um país onde existem dezenas de cultos e crenças religiosas.
Na semana passada, Ruto tinha classificado o "massacre de Shakahola" como um ato de "terrorismo" e assegurou que o Quénia não vai tolerar "as pessoas que querem pregar sermões enganosos que causam mortes".
O líder da Igreja Internacional da Boa Nova, Paul Mackenzie, vai ser presente a tribunal na terça-feira juntamente com outros colaboradores, depois de ter sido detido em 14 de abril.
Em março, este líder religioso já tinha sido detido depois de ter sido acusado de ser o responsável pela morte de crianças em situações similares, mas foi libertado sob fiança.
O caso de Mackenzie surgiu na mesma altura em que um outro caso de extremismo religioso saltou para as páginas dos jornais quenianos, o referente ao líder religioso queniano Ezekiel Odero, que admitiu no sábado que 15 pessoas morreram durante as suas "intervenções espirituais" no centro religioso de Malindi.
Odero admitiu a morte dos seus seguidores do Centro de Oração e Igreja para uma Nova Vida, se bem que os seus advogados estejam a vincar a ideia que os falecidos já estavam "em estado crítico" quando chegaram ao centro.
"Quando as pessoas morrem, a polícia é informada; não houve nenhum caso de mortes em que as forças de segurança não tenham sido informadas", disseram os advogados do evangelista, em declarações ao jornal The Nation, citadas pela Efe.
A polícia, no entanto, não parece convencida com estes argumentos e está a ligar diretamente Odero e Mackenzie devido às suas ligações empresariais, incluindo a participação no capital social de uma cadeia de televisão que ambos usavam para transmitir "mensagens radicais aos seus seguidores".
A investigação sobre Odero deverá levar a acusações de homicídio, sequestro, radicalização, genocídio, crimes contra a humanidade, crueldade infantil, fraude e lavagem de dinheiro, acrescenta a Efe, concluindo que na terça-feira o tribunal vai decidir se é libertado ou se fica mais 30 dias na prisão da cidade de Mombaça, onde está agora.
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