O chefe das forças armadas sudanesas e presidente do Conselho Soberano de Transição, Abdel Fattah al-Burhan, e o líder do grupo paramilitar RSF (na sigla em inglês), Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como "Hemedti", chegaram a "um acordo de princípio" para o estabelecimento de uma trégua entre 04 e 11 de maio, segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Sudão do Sul.
A medida foi acordada após uma conversa telefónica com o Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, que sublinhou a importância de se conseguir um "cessar-fogo duradouro" no país vizinho e destacou a necessidade de nomear representantes e lançar um processo de negociação para alcançar a paz.
Salva Kiir, que encabeça a mediação dos membros da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD) - um bloco económico da África Oriental - apelou às partes para que "proponham uma data para iniciar as conversações o mais cedo possível".
As autoridades sul-sudanesas adiantam ter recebido "o consentimento das duas partes do conflito para nomear os seus representantes para as conversações de paz, que decorrerão num local que eles proponham".
O enviado especial da missão das Nações Unidas no Sudão, Volker Perthes, afirmou em entrevistas a meios de comunicação social que as partes em conflito concordaram com negociações, que poderão ter lugar na Arábia Saudita ou no Sudão do Sul, mas sem que os dois principais líderes das duas partes se encontrem frente a frente.
O enviado de Al-Burhan, Dafa Allah al Haj Ali, disse hoje numa conferência de imprensa no Cairo que não haverá negociações "diretas" com as RSF, que qualificou de "terroristas".
O país vive hoje o segundo dia de um novo cessar-fogo de 72 horas, o terceiro consecutivo, para permitir a saída de estrangeiros e sudaneses que fogem dos combates na capital, Cartum, e em outras zonas do país, como a região do Darfur, já em conflito. No entanto, à semelhança de tréguas anteriores, continuaram a registar-se combates.
O Sudão entrou no 18.º dia consecutivo de confrontos entre o exército e os paramilitares, um conflito que obrigou à volta de 50 mil sudaneses a deslocarem-se para zonas mais seguras do país ou a refugiarem-se em nações vizinhas como o Sudão do Sul, o Egito ou o Chade, e que já fez cerca de 530 mortos e mais de 4.500 feridos.
As duas partes envolvidas no conflito iniciaram na sexta-feira uma trégua de 72 horas mediada pelos Estados Unidos da América e a Arábia Saudita para facilitar a retirada de estrangeiros no Sudão e abrir corredores seguros para a entrada de ajuda humanitária.
Os combates que começaram em grande escala há duas semanas seguiram-se a semanas de tensão sobre a reforma das forças de segurança nas negociações para a formação de um novo governo de transição, e opõem o exército do general Abdel Fattah al-Burhan e as RSF, leais ao general Mohamed Hamdane Daglo.
Ambas as forças estiveram por detrás do golpe de Estado conjunto que derrubou o executivo de transição do Sudão, em outubro de 2021.
Leia Também: Sudão. Mais de 330.000 deslocados, 100.000 fugiram para países vizinhos