Estas pessoas foram detidas nas suas casas durante uma operação noturna realizada pela Polícia Nacional em diferentes municípios da Nicarágua, revelou aos jornalistas a advogada Yonarqui Martínez, defensora de opositores.
"Os detidos foram levados nas primeiras horas da manhã perante um juiz e uma audiência massiva foi realizada. É algo que nunca vimos na história da Nicarágua", apontou Martínez, que recebeu mais de uma dezena de denúncias destas detenções.
A advogada indicou que os detidos foram indiciados pelos crimes de formação de quadrilha para atentar contra a integridade nacional e propagação de notícias falsas, consideradas como "traição contra a pátria", em audiências realizadas entre a meia-noite e o início da manhã de hoje, noticiou a agência Efe.
Os opositores e críticos do regime de Daniel Ortega foram "falsamente acusados, tiveram o seu direito de defesa negado" e foram "afastados de um processo normal" e libertados com a condição de comparecerem periodicamente numa esquadra da polícia ou perante um juiz, acrescentou.
"É uma completa aberração jurídica", salientou Martínez, que destacou que os mais de 30 detidos e arguidos "não foram libertados", mas gozam de uma "medida cautelar de apresentação periódica".
"Essa medida pode ser revogada a qualquer momento", alertou.
De acordo com a advogada, os polícias mostraram à maioria dos detidos as publicações que estes fizeram nas suas redes sociais, que, na opinião das autoridades, envolviam crimes de formação de quadrilha para atentar contra a integridade nacional e propagação de 'fake news'.
Entre os visados estão os jornalistas William Aragón e Óscar Vallecillo, segundo uma lista publicada pelo portal digital Despacho 505.
Também os líderes camponeses Octavio Ortega e Teresa Mena, a Maricruz Bermúdez, mãe de Richard Pavón, um dos jovens assassinados no contexto dos protestos que eclodiram na Nicarágua há cinco anos, a advogada da oposição Daniela Argüello Cano e o ativista de direitos humanos Harold Antonio González, estão na lista de detidos, de acordo com a mesma fonte.
A organização Monitoração Azul e Branco também relatou buscas nas residências dos detidos, a apreensão de computadores e telemóveis.
A Nicarágua vive uma crise política e social desde abril de 2018, que se agravou após as polémicas eleições gerais de 07 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo com a sua mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente, sendo que os seus principais opositores estavam na prisão ou no exílio.
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