Turquia? Participação "surpreendeu" e manipulação eleitoral é muito fácil
A elevada participação nas eleições gerais turcas de domingo "surpreendeu" a deputada e observadora eleitoral Isabel Meirelles, que constatou a facilidade com que a votação poderia ser manipulada após o encerramento das urnas.
© Burhan Karaduman /dia images via Getty Images)
Mundo Turquia
A deputada portuguesa, integrada no grupo da missão de observação eleitoral da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, falava à agência Lusa desde Paris, no regresso a Lisboa após ter assistido à votação em Ancara (centro da Turquia) e em Esmirna (oeste).
"Achei fantástica a participação maciça dos eleitores e pensei que tal fosse sinónimo de mudança do regime", atualmente liderado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan, afirmou Isabel Meirelles, lembrando que, cerca do meio-dia, em algumas das assembleias de voto em que esteve, já quase todos os eleitores tinham votado.
"Todos quiserem votar num país com um regime antidemocrático", criticou a deputada do PSD, salientando que, apesar de, na generalidade, a votação ter decorrido sem incidentes de maior, teve a perceção da existência de "várias formas" de manipular as eleições.
"Percebeu-se que [Erdogan] tinha na mão os funcionários públicos, aumentados 45% dias antes das eleições. Percebeu-se também que havia polícias à paisana nas assembleias de voto talvez a intimidar. Num centro geriátrico, os enfermeiros acompanhavam os idosos e davam-lhes a indicação de voto", exemplificou Isabel Meirelles.
Mas, para a deputada do PSD, a grande dúvida é após encerramento das urnas, altura em que "é muito fácil manipular" os resultados, se houver intenção disso.
"Os boletins que não foram utilizados vão para um saco e os preenchidos vão para outro. Torna-se fácil colocar uma cruz nos boletins vazios e depositar no saco com os votos preenchidos", explicou, salientando ter sido essa a perceção que teve, embora não tenha assistido a nada em concreto.
Hoje, o presidente da Comissão Eleitoral da Turquia, Ahmet Yener, disse em Ancara que já foram contados 99,4 por cento dos votos nacionais e 84% dos votos no estrangeiro, sendo que Erdogan tem nesta altura 49,4% dos votos, e o opositor Kemal Kilicdaroglu 45%.
Ainda não são números definitivos, mas as eleições presidenciais turcas encaminham-se para uma segunda volta, com Erdogan, que governa o país há 20 anos, a liderar sobre o principal adversário, mas a ficar aquém dos votos necessários para uma vitória à primeira volta.
Os votos da diáspora turca, mais de três milhões inscritos e com uma afluência recorde, serão decisivos para decidir o resultado final destas das eleições legislativas e presidenciais, com uma taxa de participação que rondou os 88% e com resultados finais a serem anunciados na sexta-feira pelo Conselho supremo eleitoral (YSK).
Sobre os resultados das eleições presidenciais e legislativas turcas de domingo, Isabel Meirelles admitiu um cenário pró-Erdogan, salientando que as alterações constitucionais que o chefe de Estado recandidato promoveu antes da votação, tornando o regime Presidencialista, vão permitir a manutenção do 'status quo', embora não descarte uma surpresa.
No entanto, admitiu que a maioria absoluta garantida por Erdogan nas legislativas possa ser um entrave à escolha dos eleitores no candidato da oposição na segunda volta, face a uma eventual coabitação, estranha e inédita, entre os dois principais órgãos de soberania: um Parlamento favorável a Erdogan e uma Presidência nas mãos de Kemal Kilicdaroglu.
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