"Nunca me sentei à mesa com organizações terroristas e nunca o farei [...]. Mandarei todos os refugiados para casa assim que chegar ao poder", afirmou o candidato da aliança da oposição em Ancara, no primeiro discurso público desde a primeira volta, a 14 de maio.
Nos últimos meses, o líder da oposição tinha utilizado apenas a palavra "repatriamento" e dito que o faria num prazo de dois anos se vencesse a votação.
Estas duas promessas, agora formuladas num tom invulgarmente firme, tal como define a agência noticiosa France-Presse (AFP), "soam como uma mensagem" enviada aos 2,8 milhões de eleitores (5,2 por cento do eleitorado) que apoiaram o terceiro e último candidato mais votado na primeira volta, o ultranacionalista Sinan Ogan.
Segundo a imprensa turca, Sinan Ogan encontrou-se quarta-feira com um dos seis líderes da aliança da oposição e poderá encontrar-se sexta-feira com Kiliçdaroglu, que obteve 44,9% dos votos no domingo, contra 49,5% do Presidente cessante Recep Tayyip Erdogan, uma diferença de mais de 2,5 milhões de votos.
Sinan Ogan poderá apelar aos seus apoiantes no final da semana para que votem num dos dois finalistas da eleição, embora esteja por percecionar se o eventual apoio do ultranacionalista a qualquer um dos candidatos seja seguido pelos seus apoiantes.
Na primeira volta, Ogan centrou parcialmente a sua campanha na expulsão dos quatro milhões de refugiados que vivem em solo turco, 90% deles sírios.
Kiliçdaroglu, que há muito prometeu enviar os refugiados sírios para o país de origem, acusou hoje o chefe de Estado cessante de ter "trazido voluntariamente 10 milhões de refugiados" para a Turquia.
"Se se mantiverem no poder, haverá mais 10 milhões de refugiados [...]. Haverá pilhagens. As cidades serão geridas pela máfia e pelos traficantes de droga. O feminicídio vai aumentar", alertou.
Sobre a questão do terrorismo, Kiliçdaroglu acusou Erdogan de ter conduzido "negociações secretas" com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo descrito como terrorista por Ancara e pelos seus aliados ocidentais.
O líder da oposição turca também o chefe de Estado de ter "alimentado e feito crescer" o movimento do pastor exilado Fethullah Gülen, um antigo aliado de Erdogan, acusado por este último de ter fomentado a tentativa de golpe de Estado de julho de 2016.
"Nunca estive do lado daqueles que conspiraram contra os nossos soldados e nunca estarei", disse, visando Erdogan, que, por sua vez, acusa Kiliçdaroglu de "receber ordens" do PKK desde que ganhou o apoio do partido pró-curdo HDP.
O candidato da oposição também denunciou as "irregularidades" que, defendeu, prejudicaram a primeira volta das eleições.
"Não precisamos de um ou dois, mas de cinco observadores em cada assembleia de voto", afirmou o líder da oposição.
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