"Pelo menos 800.000 pessoas que estavam no trajeto do ciclone precisam de ajuda alimentar de emergência" em Myanmar, disse Anthea Webb, vice-diretora do Programa Alimentar Mundial (PAM) para a Ásia e o Pacífico, durante uma conferência de imprensa nas Nações Unidas em Genebra.
"O ciclone deixou um rasto de destruição no estado de Rakhine, em Myanmar, com casas arrasadas, estradas cortadas por árvores tombadas, hospitais e escolas destruídos e telecomunicações e linhas de energia severamente interrompidas", disse a responsável.
O PAM já está presente em Myanmar, mas agora precisa de 60 milhões de dólares para levar ajuda alimentar a 2,1 milhões de pessoas, incluindo as 800 mil afetadas pelo devastador ciclone que também atingiu o Bangladesh.
A responsável do PAM afirmou que as autoridades militares, que tomaram o poder em Myanmar num golpe em 01 de fevereiro de 2021, deram permissão ao PAM para se deslocarem às áreas mais afetadas, que também são os locais onde as forças do governo realizam uma repressão violenta.
No entanto, Anthea Webb sublinhou que o PAM funciona independentemente das autoridades, quando questionada se a organização tem algum apoio logístico das autoridades para a entrega da ajuda.
"Nós operamos de forma independente, mas obtivemos permissão" para nos deslocarmos a estas áreas, onde estas permissões são essenciais, explicou.
O PAM iniciou distribuições emergenciais de alimentos para famílias em abrigos no estado de Rakhine e na região de Magway.
Com ventos de até 195 quilómetros por hora, o ciclone passou no domingo entre Sittwe, a capital do estado birmanês de Rakhine, e Cox's Bazar, em Bangladesh, onde existem campos para a minoria muçulmana rohingya, que fugiu da violência do exército de Myanmar.
Embora estabelecidos em Myanmar há gerações, a maioria dos rohingyas não tem acesso à cidadania, saúde ou educação naquele país predominantemente budista, que o exército governa desde fevereiro de 2021.
Anthea Webb apontou que a falta de financiamento forçou o PAM em março a reduzir o valor dos vales de alimentação para refugiados que vivem em Cox's Bazar, no Bangladesh, para apenas 10 cêntimos de dólar por refeição.
"E teremos que cortar novamente em junho, a menos que o financiamento seja garantido", disse a responsável do PAM.
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