Deslocados no norte da Etiópia manifestam-se par exigir regresso a casa

Milhares de pessoas deslocadas pelo conflito na região do Tigray manifestaram-se hoje na região norte da Etiópia, exigindo regressar às áreas ainda controladas pelas forças da região vizinha de Amhara, segundo a televisão oficial local e testemunhas.

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Lusa
23/05/2023 17:58 ‧ 23/05/2023 por Lusa

Mundo

Etiópia

"Queremos ir para casa, não queremos continuar a viver de ajudas miseráveis", afirmou Birhan Tadesse, do distrito de Setit-Humera, no extremo noroeste da Etiópia, que faz fronteira com a Eritreia, à agência France-Presse, por telefone, depois de protestar em Mekele, a capital de Tigray, onde vive desde o conflito.

Desde a assinatura do acordo de paz de Pretória, em 02 de novembro de 2022, não se viu "qualquer progresso, exceto que o som dos tiros parou", continuou.

O acordo pôs fim a dois anos de terríveis guerras entre o governo federal etíope e as autoridades rebeldes da região do Tigray, que se estenderam às regiões vizinhas de Amhara e Afar.

Durante o conflito, forças e milícias da região de Amhara - que apoiavam o exército federal - apoderaram-se de Tigray Ocidental e continuam a controlar esta área, que é reivindicada tanto pelos naturais daquela região bem como pelos naturais de Amhara, apesar do acordo.

A Etiópia, um mosaico de 80 povos, foi dividida em 1995 em estados regionais, segundo linhas etnolinguísticas. Os naturais de Amhara acusam a elite do Tigray, que dominava a coligação no poder na altura, de ter monopolizado as terras ancestrais Amhara em benefício de Tigray.

Já os naturais desta região, por seu lado, acusam os de Amhara de expulsar a população de Tigray Ocidental desde o conflito.

"Estamos a pedir para voltar à nossa terra natal original, para podermos cultivar alimentos e comer. Os governos internacionais devem entender isso, não há alternativa ", disse Hadush Kassa, da cidade de Humera, que também se manifestou em Mekele.

"A angústia do povo de Tigray Ocidental deve parar", "Aplicar o acordo de Pretória, trazer de volta os deslocados", "As forças invasoras devem deixar a nossa terra" eram as palavras escritas em faixas e cartazes, segundo imagens da Tigray TV, canal oficial das autoridades da região etíope.

De acordo com a estação televisiva, os deslocados do Tigray Ocidental manifestaram-se em várias localidades da região.

Contactado pela agências noticiosa francesa, Getachew Reda, presidente da administração interina do Tigray, estabelecida nos termos do acordo de Pretória e composta por antigos altos responsáveis das autoridades rebeldes, não respondeu de imediato.

Na sexta-feira, Getachew disse que estava "empenhado, em conjunto com o governo federal, em reinstalar os deslocados no local de onde são, em áreas de Tigray ainda fora dos limites de nossa administração", aparentemente, referindo-se a Tigray Ocidental.

O número exato de vítimas é difícil de avaliar, mas os Estados Unidos da América estimam que cerca de 500.000 pessoas morreram durante o conflito, durante o qual Tigray e os seus seis milhões de habitantes estiveram durante muito tempo privados do acesso a cuidados de saúde.

Leia Também: Etiópia. Rebeldes de Oromo denunciam ofensiva em pleno processo de paz

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