"A poderosa reação ao sofrimento infligido pela guerra na Ucrânia demonstrou o que o mundo pode oferecer às pessoas necessitadas", afirmou Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC, sigla em inglês), num comunicado.
"A ação política em prol dos ucranianos foi poderosa e rápida, as fronteiras foram mantidas abertas, o financiamento foi abundante e a cobertura mediática foi extensa. Os governantes devem mostrar a mesma humanidade para com as pessoas afetadas por crises em locais como o Burkina Faso e a República Democrática do Congo, o segundo país da lista", acrescentou.
Em 2022, foram escritos cinco vezes mais artigos sobre a crise ucraniana dos deslocados internos do que sobre o total das dez crises mais negligenciadas do mundo.
Além disso, de acordo com o NRC, por cada dólar angariado para uma pessoa necessitada na Ucrânia em 2022, apenas 25 cêntimos foram angariados para uma pessoa necessitada no conjunto das dez crises mais negligenciadas do mundo.
No Burkina Faso, que está sob ameaça terrorista desde 2015, mais de dois milhões de pessoas estão deslocadas internamente e quase um quarto da população precisa de assistência humanitária.
Além disso, 800.000 pessoas vivem em 23 localidades bloqueadas por grupos armados, onde não têm acesso a serviços básicos, uma situação "cada vez mais grave" em que "algumas pessoas são obrigadas a comer folhas para sobreviver".
A lista foi criada pelo NRC há sete anos e baseia-se em três critérios: falta de financiamento humanitário, falta de atenção dos media e falta de iniciativas políticas e diplomáticas internacionais.
Depois do Burkina Faso e da RDCongo, a lista continua com a Colômbia, o Sudão, a Venezuela, o Burundi, os Camarões, o Mali, El Salvador e a Etiópia.
De acordo com os dados do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), enquanto o Burkina Faso recebeu apenas 42% da ajuda humanitária necessária em 2022, a Ucrânia recebeu quase 90% em pouco mais de metade do ano.
Além disso, a ajuda total a África - onde se situa a maioria das crises negligenciadas - foi, em 2022, de 34 mil milhões de dólares (cerca de 31,8 mil milhões de euros) em ajuda externa ao desenvolvimento, que inclui ajuda ao desenvolvimento e ajuda humanitária, menos 7,4% do que em 2021, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
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