Sudão prolonga encerramento de espaço aéreo devido a violentos combates

O Sudão anunciou hoje o prolongamento do encerramento do espaço aéreo do país devido aos violentos combates entre o exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF), apesar dos constantes apelos para uma solução negociada do conflito.

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Lusa
01/06/2023 12:41 ‧ 01/06/2023 por Lusa

Mundo

Sudão

"A Aviação Civil isentou os voos de ajuda humanitária e de evacuação do encerramento, que durará até 15 de junho, sob reserva de autorização das autoridades competentes", declarou a agência noticiosa oficial sudanesa SANA.

O Sudão encerrou o seu espaço aéreo após o início do conflito, a 15 de abril, mas o prolongamento dessa decisão surge poucas horas depois de o exército ter suspendido, na quarta-feira, a sua participação nas negociações com os paramilitares, mediadas pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita.

Este diálogo, que estava a ser conduzido indiretamente e em grande segredo na cidade saudita de Jeddah, resultou numa trégua de sete dias, que entrou em vigor a 22 de maio e foi prolongada na segunda-feira por mais cinco dias, na esperança de convencer as partes beligerantes de um cessar-fogo permanente.

Nenhum dos nove cessar-fogos alcançados até à data desde o início dos combates foi respeitado pelas duas partes.

Residentes em Cartum e meios de comunicação social sudaneses afirmaram hoje que os combates intensificaram-se desde o meio-dia de quarta-feira e continuam hoje no sul da capital e na cidade vizinha de Um Durman, onde se ouvem fortes explosões, aparentemente causadas por bombardeamentos aéreos e de artilharia.

Entretanto, os Estados Unidos apelaram às partes beligerantes do Sudão para que regressem às conversações de cessar-fogo e a fazerem um esforço concertado para respeitarem uma trégua duradoura, depois de os esforços de paz terem fracassado mais uma vez.

Os combates entre as forças armadas sudanesas, lideradas pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido, comandadas pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, eclodiram em meados de abril. A violência matou pelo menos 866 civis, de acordo com um grupo de médicos sudaneses, embora o número de mortos possa ser muito superior.

A retirada dos militares sudaneses das conversações constitui um revés para Washington e Riade, que têm estado a mediar entre as duas partes.

"Assim que as forças deixarem claro, através das suas ações, que estão seriamente empenhadas em cumprir o cessar-fogo, os Estados Unidos e o Reino da Arábia Saudita estão preparados para retomar a facilitação das discussões suspensas", declarou o Departamento de Estado.

Washington e Riade mediaram um cessar-fogo em 21 de maio, para permitir a prestação de assistência humanitária e o restabelecimento de serviços vitais.

Numa declaração conjunta, no domingo, Riade e Washington acusaram ambas as partes de violarem as tréguas. Os militares continuaram a efetuar ataques aéreos, enquanto as RSF continuavam a ocupar as casas das pessoas e a apoderar-se de bens. Os roubos estavam a ocorrer em áreas controladas por ambas as forças, acrescentou.

As quase sete semanas de combates reduziram a capital sudanesa, Cartum, a um campo de batalha urbano, com muitos distritos sem eletricidade e água corrente. O conflito também alimentou a violência étnica na região ocidental de Darfur, matando centenas de pessoas.

O Sindicato Independente dos Médicos do Sudão revelou hoje a morte de pelo menos 17 pessoas e 106 feridos, em "bombardeamentos violentos e sangrentos que começaram ao meio-dia de quarta-feira", e lamentou que "os casos continuem a aumentar".

Por seu lado, a aliança de partidos civis da oposição Forças para a Liberdade e a Mudança apelou hoje às partes em conflito para que regressem ao diálogo de Jeddah, respeitem a trégua e "adotem a via política pacífica como única alternativa para resolver a crise", que conduziu a uma situação trágica no país.

"Apelamos às duas partes para que respondam à voz da razão, cumpram estritamente as disposições do acordo de tréguas e concluam as negociações de Jeddah, sem suspensão ou interrupção (...), para pôr fim ao sofrimento contínuo do nosso povo", afirma um comunicado da aliança.

Além de destruir numerosas instalações civis e de serviços e de levar o sistema de saúde à beira do colapso, o conflito no Sudão já causou a morte de, pelo menos, 850 pessoas e mais de 5.500 feridas, e provocou a deslocação interna e externa de mais de 1,3 milhões de pessoas, segundo as Nações Unidas.

Leia Também: Sudão. Suspensão das negociações não deve "desencorajar" mediadores

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