De acordo com Gowan, um especialista no sistema das Nações Unidas, Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz, a Rússia e a China têm feito 'lobby' em prol da Bielorrússia, mas isso não chegará para alcançar a vaga disponível para o grupo regional da Europa de Leste - a qual disputará com a Eslovénia.
"Há quase zero hipóteses de a Bielorrússia ser eleita para o Conselho de Segurança na terça-feira. Está a competir por uma vaga com a Eslovénia. Embora possa haver mais de uma rodada de votação para decidir o vencedor, é quase certo que a Eslovénia será bem-sucedida no final", avaliou o analista.
Ainda segundo Gowan, o facto de a Bielorrússia ser um aliado tradicional de Moscovo e de ter apoiado a Rússia na invasão da Ucrânia pesará no momento em que os 193 Estados-membros da ONU escolherem o vencedor.
Além disso, caso vencesse, a Bielorrússia passaria a ser um representante da Rússia e da China no Conselho de Segurança, na visão do especialista.
"A China e a Rússia têm feito 'lobby' para a Bielorrússia. Mas acho que muitos membros da ONU que condenaram a Bielorrússia por ajudar na invasão da Ucrânia votarão na Eslovénia", disse à Lusa.
"Todos entendem que a Bielorrússia é um representante da Rússia e da China", acrescentou Gowan, que é diretor do departamento da ONU no International Crisis Group - uma organização não-governamental (ONG) voltada para a resolução e prevenção de conflitos armados internacionais.
A Europa de Leste é o único grupo regional com uma eleição disputada para o lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU para o biénio 2024/2025, escolha que será decidida na terça-feira entre Bielorrússia e Eslovénia.
A eleição pela 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU tem cinco lugares disponíveis, de acordo com a distribuição regular entre as regiões: dois assentos para o grupo Africano (atualmente ocupado por Gabão e Gana); uma cadeira para o grupo Ásia-Pacífico (neste momento ocupado pelos Emirados Árabes Unidos); um assento para o grupo da América Latina e Caraíbas (atualmente ocupado pelo Brasil); e uma vaga para o grupo da Europa de Leste (atualmente ocupado pela Albânia).
O grupo da Europa Ocidental não disputa nenhum assento este ano, uma vez que as suas duas vagas - ocupadas por Malta e Suíça até 2024 - são disputadas a cada dois anos.
Argélia, Serra Leoa, Guiana e Coreia do Sul concorrem sem oposição nos respetivos grupos regionais.
Apenas a Bielorrússia e Eslovénia terão efetivamente de disputar entre si a vaga pelo grupo da Europa de Leste.
As eleições deste ano acontecem num momento em que a dinâmica do Conselho continua difícil e alvo de maiores discordâncias devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. Espera-se que a situação na Ucrânia continue a dominar as discussões do Conselho ao longo dos próximos tempos.
A Bielorrússia - que faz fronteira com os dois países em conflito -- é uma reconhecida aliada da Rússia e é acusada por alguns membros do Conselho de Segurança de ajudar Moscovo durante a invasão da Ucrânia, ao permitir que as forças russas usassem o seu território como base de preparação.
No início deste ano, a Bielorrússia anunciou que a Rússia colocaria armas nucleares táticas no seu território.
Os candidatos Guiana, Coreia do Sul, Serra Leoa e Eslovénia estavam entre os 141 Estados-membros da ONU que votaram a favor de uma resolução da Assembleia-Geral em março do ano passado que exigia o fim da ofensiva russa na Ucrânia.
A Argélia absteve-se, enquanto a Bielorrússia votou contra a resolução.
O Conselho de Segurança, órgão das Nações Unidas cujo objetivo é zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional, é composto por 15 membros: cinco permanentes e com poder de veto - China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos da América - e 10 não-permanentes.
Os países eleitos nesta terça-feira irão juntar-se ao Equador, Japão, Malta, Moçambique e Suíça como membros não-permanentes.
O Conselho de Segurança é encarado como o órgão máximo da ONU devido à sua capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo.
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