Um homem disparou à queima roupa contra Khadim Ba, um amigo de Cheikh, a testemunha ouvida pela AP que estava a menos de um metro quando Ba foi alvejado no peito por este civil, a 1 de junho, durante uma das várias manifestações que nas últimas semanas têm espalhado a violência em Dacar, a capital do Senegal.
Na reportagem, a AP escreve que o relatório da autópsia confirma que Ba foi morto devido a um "trauma torácico originado por arma de fogo", juntando-se assim às pelo menos 23 pessoas que morreram só este mês durante os confrontos entre a polícia e os protestantes, os mais sangrentos das últimas décadas, segundo a Amnistia Internacional.
Segundo os manifestantes e vários grupos ativistas, várias pessoas tiveram o mesmo destino de Ba, mortas por munições usadas por homens armados e vestidos à civil que pareciam estar a lutar do lado da polícia.
"Pensávamos que iam usar gás lacrimogéneo e granadas contra nós, mas não fazíamos a mínima ideia que iriam disparar", disse Cheikh, acrescentando: "Quando o vi a ir para o hospital, percebi que estava tudo acabado".
Cheikh contou à AP, durante a entrevista em sua casa, que o alegado homicida de Ba é conhecido na vizinhança, e vários testemunhos confirmam a sua presença disparando contra manifestantes à frente da polícia de choque do Senegal, algo que a AP diz não ter conseguido confirmar de forma independente.
Os apoiantes de Sonko defendem que esta morte é apenas mais um episódio da estratégia do Presidente, Macky Sall, para impedir a candidatura presidencial do seu rival político, em 2024, já que ao abrigo da lei nacional, um criminoso não pode concorrer a eleições presidenciais.
Ousmane Sonko foi condenado, no final de maio, por violação e ameaças de morte a uma jovem empregada num salão de massagens.
Outra testemunha ouvida pela AP contou que vários jovens armados e vestidos à civil subiram para meia dúzia de carrinhas de caixa aberta perto da sede do partido no poder no dia seguinte à da condenação de Sonko, seguindo atrás da caravana de veículos das forças de segurança nacionais.
As autoridades do Senegal negam a colaboração de civis armados com as forças policiais, e o ministro do Interior, Antoine Felix Abdoulaye Diome, disse esta semana que foi aberta uma investigação sobre as cenas que correm nas redes sociais locais, com o objetivo de "determinar a responsabilidade pelas mortes e pela pilhagem de propriedade".
O porta-voz do governo, Abdou Karim Fofana, disse que alguns jovens organizaram-se de forma espontânea em comités de defesa da vizinhança "para proteger a sua integridade física e a sua propriedade", argumentando que a cena descrita em frente à sede do partido refere-se à utilização de um servido de segurança privado com o objetivo de proteger as imediações da sede do partido no poder.
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