Zondo, que liderou até janeiro do ano passado a investigação de quatro anos da comissão de inquérito sobre corrupção na presidência de Jacob Zuma (2009-2018), defendeu ainda a criação de uma comissão permanente de combate à corrupção.
"Um ano é um tempo razoável para fazer uma reflexão" sobre o trabalho da comissão afirmou Raymond Zondo, durante um simpósio em Pretória, a capital do país, sobre o impacto do relatório e as suas implicações.
"É importante que deva haver consequências", defendeu.
O chefe da Justiça sul-africana considerou depois em declarações à imprensa local que a captura do Estado permanece uma realidade sob a atual administração do Presidente, Cyril Ramaphosa, que é também presidente do partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês).
"Pode continuar, acho que não aconteceu nada que impeça as pessoas de tentarem ou de começar, o importante é que possamos identificar assim que houver sinais e lidar com isso, mas é aí que, por exemplo, o parlamento se torna importante porque não acredito que, do jeito que as coisas estão, haja qualquer mudança no parlamento em relação a garantir que desta vez eles iriam parar [com a corrupção]", salientou.
O Presidente Cyril Ramaphosa, que foi chamado a testemunhar perante a comissão, prometeu repetidamente reprimir a corrupção pública.
Todavia, um ano depois da apresentação do relatório de seis partes em que Zondo disse que quem capturou o Estado o fez por influência de Zuma, o atual Governo do ANC continua sem responsabilizar os dirigentes do partido, envolvidos na alegada cabala multimilionária.
"O custo mais devastador e mais duradouro" desta corrupção generalizada que alcançou o mais alto nível do Estado "é a perda de confiança dos cidadãos nos seus dirigentes", disse o Presidente da República, em 04 de janeiro de 2022, quando recebeu a primeira parte do relatório da comissão Zondo, lançada pelo próprio Jacob Zuma.
A comissão Zondo começou a ouvir testemunhas em agosto de 2018 e ouviu mais de 300 pessoas, incluindo ministros e ex-ministros, eleitos, empresários, altos funcionários e denunciantes durante mais de 400 dias de audiências.
O ex-presidente sul-africano Jacob Zuma, que enfrenta também na justiça um caso de corrupção pública na aquisição de armamento com mais de 20 anos, é acusado de se ter apropriado de recursos públicos com recurso a uma família de empresários de origem indiana, os Gupta, até o ANC o forçar a demitir-se do cargo no início de 2018.
Os irmãos Gupta, que terão oferecido subornos para influenciar nomeações ministeriais, segundo contaram várias testemunhas, fugiram da África do Sul pouco após o início dos trabalhos da comissão.
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