O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou, este domingo, que os últimos acontecimentos na Rússia mostram como a decisão de Vladimir Putin de invadir a Ucrânia também instalou o caos na Rússia, revelando "fissuras" no poder político do país.
"Se colocar isto em contexto, há 16 meses, Putin estava às portas de Kyiv, na Ucrânia, a tentar tomar a cidade numa questão de dias, apagar o país do mapa. Agora, ele teve de defender Moscovo, a capital da Rússia, contra um mercenário que ele mesmo criou", disse Blinken, em declarações à ABC.
"Então, acho que isso é claro - vemos fissuras a surgir", acrescentou.
Blinken afirmou ainda que não "acha que vimos o ato final" da turbulência russa após a rebelião levada a cabo pelo líder do grupo Wagner.
"Tanto do que está abaixo da superfície agora veio à tona novamente em termos de questionar a premissa da guerra, em termos de questionar a condução da guerra, em termos de questionar o que isso realmente trouxe de bom para a Rússia", notou.
Os Estados Unidos, que mantiveram intensas consultas com os seus aliados europeus nas últimas 24 horas sobre a crise na Rússia, tinham, até agora, recusado comentar diretamente a rebelião.
O próprio Blinken discutiu, no sábado, a situação na Rússia com seus homólogos dos países do G7, bem como com a Polónia e a Turquia.
No entanto, à CBS, Blinken ressalvou ser "muito cedo" para especular sobre o impacto da crise na Rússia ou a guerra na Ucrânia.
"Na medida que a atenção da Rússia é desviada (...), isso cria uma vantagem adicional" para a Ucrânia, enquanto decorre a contraofensiva dos ucranianos, referiu o secretário de Estado norte-americano.
"É muito cedo para saber como isto vai acabar. É um quadro em evolução", sublinhou.
Recorde-se que, após várias horas de tensão na Rússia, Yevgeny Prigozhin, líder dos mercenários Wagner, anunciou a suspensão das movimentações contra o comando militar russo após chegar a acordo com o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.
Antes, o chefe do grupo paramilitar acusou o Exército russo de atacar acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações que expõem profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.
[Notícia atualizada às 15h48]
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