As cerimónias fúnebres de Naël Merzouk, o jovem de 17 anos baleado fatalmente por um agente da polícia francesa na terça-feira passada, iniciaram-se este sábado com um velório privado, ao que se seguiu uma cerimónia na mesquita e o enterro num cemitério local.
Família e amigos despediram-se do jovem em Nanterre, nos arredores de Paris, tendo sido acompanhados por uma grande multidão que clamava por “justiça pelo Naël”.
Os advogados dos entes queridos do adolescente apelaram aos jornalistas para que se mantivessem afastados, argumentando que este era “um dia para a família de Naël” fazer o luto “com discrição”.
“Um polícia não pode disparar contra as nossas crianças, roubar a vida das nossas crianças”, considerou a mãe de Naël, Mounia, em declarações à imprensa francesa.
A morte do jovem de origem árabe tem ‘incendiado’ toda a França, que degenerou em tumultos, especialmente nos bairros populares das grandes cidades e na cintura metropolitana de Paris. Este foi o terceiro tiroteio fatal levado a cabo pelas autoridades em 2023 numa fiscalização rodoviária, e o 21.º desde 2020, sendo que a maioria das vítimas tem origem nos países do norte de África.
Marselha e Lyon têm sido os grandes epicentros da tensão, razão pela qual o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou que vai ser mantida a mobilização de 45 mil polícias e guardas nacionais para enfrentar os tumultos desta noite.
Ainda assim, o governo optou por não declarar o estado de emergência nas localidades mais afetadas pelos distúrbios urbanos, apesar de estar de novo previsto o envio de veículos blindados, helicópteros e do Grupo de Intervenção da Guarda Nacional (GIGN), em resposta aos pedidos dos responsáveis das duas cidades.
Na verdade, a partir das 19h00 (18h00 em Lisboa), os manifestantes entraram em confronto com as autoridades mobilizadas em Marselha, apesar do recolher obrigatório imposto.
Imagens partilhadas nas redes sociais mostram os agentes da polícia a lançar gás lacrimogéneo contra as multidões, ainda que a situação não tenha tomado proporções como as da noite passada, de acordo com a France Bleu Provence.
O mesmo meio ressalvou que as manifestações estão proibidas até às 7h00 de domingo e os transportes foram encerrados às 19h00. Entretanto, pelo menos 14 pessoas foram detidas durante uma tentativa de pilhagem numa das principais ruas desta cidade francesa.
De notar ainda que, na noite de sexta-feira, cerca de 30 jovens entraram numa loja de armas e roubaram pelo menos quatro espingardas, relatou a BBC. Uma pessoa foi detida.
O Ministério do Interior de França atualizou hoje de 994 para 1.311 o número total de detenções feitas na sexta-feira ligadas aos tumultos. Apesar do reforço policial em todo o país, jovens manifestantes entraram em confronto com forças policiais, atearam cerca de 2.500 fogos, saquearam lojas e provocaram ferimentos em 79 agentes.
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