Numa intervenção hoje em Genebra, o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, recordou que Myanmar mergulhou num estado de caos na sequência do golpe de Estado de fevereiro de 2021 que derrubou o governo eleito da prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi e que pôs fim a um interlúdio democrático de dez anos, denunciando a existência de um clima de "medo e terror" que está a ser intensificado pela junta militar.
Durante a apresentação do seu relatório sobre Myanmar perante o Conselho de Direitos Humanos em Genebra, Turk pediu a "todos os países que cessem e impeçam o fornecimento de armas aos militares e tomem medidas específicas para limitar o acesso dos generais a moeda estrangeira, combustível de aviação e outros meios usados para atacar a população".
"Essas armas não caem do céu", disse o Alto-Comissário, que pediu que a comunidade internacional investigue os "interesses económicos por trás delas".
O relator especial da ONU para os Direitos Humanos em Myanmar, Thomas Andrews, informou, por sua vez, que "a moeda estrangeira permite à junta militar comprar armas, abastecer fábricas de armas e reabastecer aviões e helicópteros".
"É essencial que a comunidade internacional atue de forma coordenada para privar a junta destes fundos", reforçou Turk, encorajando a União Europeia (UE) e os Estados Unidos a prosseguirem esforços para garantir este objetivo.
Recentemente, a embaixadora dos Estados Unidos junto do Conselho dos Direitos Humanos na ONU, Michèle Taylor, acusou o regime de Myanmar de "comprar armas em vez de alimentar os seus cidadãos".
Também o seu homólogo francês, Jérôme Bonnafont, denunciou "a extensão dos abusos massivos e deliberados cometidos pelas Forças Armadas birmanesas".
Hoje, Turk denunciou ataques contra os trabalhadores humanitários em Myanmar, informando que cerca de 40 foram mortos desde o golpe militar e mais de 200 foram detidos.
No seu relatório, o Alto-Comissário da ONU criticou ainda "a recusa sistemática do exército" em autorizar a entrega de ajuda humanitária, dizendo que este bloqueio pode constituir um crime de guerra e um crime contra a humanidade.
Segundo a ONU, 15,2 milhões de pessoas precisam de assistência alimentar e nutricional de emergência em Myanmar.
Leia Também: Myanmar: 40 trabalhadores humanitários mortos desde o golpe de Estado