Numa nota divulgada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, o líder da diplomacia britânica, James Cleverly, disse que "a guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia obstruiu o livre fluxo de cereais e outros produtos alimentícios através do Mar Negro, causando sofrimento em todo o mundo".
O Reino Unido instou a Rússia a "voltar à iniciativa, que foi desenvolvida pela ONU em 2022, com apoio da Turquia, e permitir a exportação de cereais sem entraves".
Cleverly observou que, "enquanto as exportações de cereais da Ucrânia são limitadas, as exportações russas de alimentos estão em níveis mais altos do que antes da invasão".
"Sempre deixámos claro que o alvo das nossas sanções é a máquina de guerra da Rússia e não os setores de alimentos e fertilizantes", ressalvou a nota da diplomacia britânica, acrescentando que "ao contrário do que a Rússia afirma, a ONU e outros parceiros tomaram medidas significativas para garantir que os alimentos russos possam ter acesso aos mercados mundiais".
Paris também condenou a decisão russa, dizendo que Moscovo deveria "parar com a sua chantagem sobre a segurança alimentar mundial".
"A Rússia é a única responsável por bloquear a navegação neste espaço marítimo e está a impor um bloqueio ilegal aos portos ucranianos", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês em comunicado, instando a Rússia a "reverter a sua decisão".
O chanceler alemão, Olaf Scholz, classificou, por seu lado, o anúncio de Moscovo como "más notícias", destacando que o mundo inteiro está ameaçado pela agressão russa contra a Ucrânia.
O líder alemão acrescentou que todos "vão perceber exatamente o que está por detrás disto" e que a Rússia não se sente responsável por uma "boa convivência com o resto mundo".
Estas declarações de Scholz seguem-se a outras já divulgadas pela porta-voz adjunta do Governo alemão, Christiane Hoffmann, nas quais defendeu que o acordo "não seja apenas por um prazo fixo ou por um curto período de tempo, mas que os cereais e os fertilizantes possam ser exportados da Ucrânia a longo prazo".
A Rússia suspendeu hoje o acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro a partir de portos ucranianos, argumentando que os compromissos assumidos em relação à parte russa não foram cumpridos.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sustentou que, "mesmo sem a Rússia, tudo deve ser feito para usar este corredor" no Mar Negro.
"Não temos medo", disse, num comentário partilhado na rede social Facebook pelo seu porta-voz, Serguei Nykyforov.
A suspensão mereceu comentários do secretário-geral da ONU, António Guterres, a alertar que centenas de milhões de pessoas vão pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo.
O Presidente da Turquia afirmou, por sua vez, acreditar que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, "quer manter" o acordo.
"Daremos passos nesse sentido, com um telefonema a Putin, sem esperar por agosto", declarou
O recuo de Moscovo em relação à prorrogação da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, que já vinha ameaçando caso não fossem atendidas as suas exigências, mereceu críticas contundentes da Comissão Europeia, para a qual se trata de uma "decisão cínica, mas também dos Estados Unidos, que referiram tratar-se de "outro ato de crueldade" russa e "mais um golpe nos países mais vulneráveis do mundo".
O acordo dos cereais entrou em funcionamento em agosto do ano passado, em plena guerra, quando os primeiros navios começaram a ser carregados e transportados a partir dos portos do sul da Ucrânia, um dos maiores produtores de cereais do mundo.
Segundo dados das Nações Unidas, desde que o acordo entrou em vigor, perto de 33 milhões de toneladas de cereais foram escoados a partir dos portos do sul da Ucrânia.
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