"Enviei cartas oficiais ao Presidente da Turquia [Recep Tayyip] Erdogan e ao secretário-geral da ONU, [António] Guterres, com a proposta de continuar a Iniciativa dos Grãos do Mar Negro ou o seu equivalente em formato trilateral", realçou Zelensky, no seu habitual discurso noturno dirigido à nação.
As autoridades de Kyiv pretendem que a comunidade internacional garanta, mesmo sem o acordo de Moscovo, a liberdade de navegação no Mar Negro, violada pelo Exército russo desde que lançou a invasão militar em larga escala da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.
"A Ucrânia, a ONU e a Turquia (...) podem garantir em conjunto a funcionalidade do corredor alimentar e a fiscalização dos navios" que até agora permitiam, apesar das limitações impostas pelo lado russo, a saída marítima de cereais ucranianos, apesar das limitações impostas pela invasão russa, acrescentou.
O chefe de Estado ucraniano lembrou que o acordo tem como signatários a Turquia e a ONU e "permanece válido" apesar da recusa da Rússia em prorrogá-lo.
"A única coisa necessária é a sua implementação cuidadosa e uma pressão decisiva do mundo sobre o Estado terrorista", frisou Zelensky, referindo-se à Rússia.
O Presidente ucraniano recordou que o acordo dos cereais, através do qual a Rússia prometeu em julho de 2023, perante a ONU e a Turquia, permitir a exportação de cereais por três portos ucranianos no Mar Negro, permitiu que 33 milhões de toneladas de produtos agrícolas chegassem a 45 países.
A Rússia declarou no início deste mês que Moscovo não via motivo para estender o acordo e decidiu suspendê-lo sob a alegação de que as sanções que sofre devido à agressão contra a Ucrânia impedem o cumprimento da parte do pacto que também deve garantir as exportações de alimentos russos e fertilizantes.
O acordo expirou às 00h00 de hoje (22h00 em Lisboa), após o final do prazo estabelecido durante a sua última renovação por dois meses em maio.
A suspensão do acordo por Moscovo mereceu comentários do secretário-geral da ONU, António Guterres, a alertar que centenas de milhões de pessoas vão pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo.
O Presidente da Turquia afirmou, por sua vez, acreditar que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, "quer manter" o acordo.
Reino Unido, França e Alemanha, entre outros aliados europeus, também condenaram a suspensão russa dos acordos do Mar Negro, tal como primeiro-ministro português, António Costa, que alertou que a suspensão do acordo de cereais por parte da Rússia é uma "muito má notícia" que pode levar a uma "crise alimentar à escala global".
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