Travis King, soldado das Forças Armadas dos Estados Unidos, foi detido após atravessar a fronteira da Coreia do Sul para a Coreia do Norte. A notícia foi dada a conhecer na terça-feira e só agora se começam a saber os primeiros detalhes sobre o caso e sobre o norte-americano.
Afinal, quem é Travis King? O que sucedeu?
Travis King tem 23 anos e não tem destacamentos
King tem 23 anos e é um soldado raso - sem graduação - do Exército dos Estados Unidos. Ocupava o cargo de Cavalry Scout desde janeiro de 2021 e não tem destacamentos, segundo informou Bryce Dubee, porta-voz do Exército norte-americano, citado pela ABC News.
Ao serviço das Forças Armadas, King já recebeu três medalhas: a Medalha do Serviço de Defesa Nacional, a Medalha do Serviço de Defesa Coreano e a Fita do Serviço Ultramarino - medalhas comumente recebidas por militares norte-americanos na Coreia.
A detenção na Coreia do Sul e a fuga do aeroporto
Antes de cruzar a fronteira para a Coreia do Norte, King passou 47 dias num centro de detenção sul-coreano, na sequência de uma discussão com um local. O soldado deveria regressar aos Estados Unidos para enfrentar uma ação disciplinar.
Por sua vez, as autoridades de Seul confirmaram que King tinha sido libertado da prisão a 10 de julho, depois de cumprir dois meses por acusações de agressão.
Segundo a imprensa sul-coreana, King terá dado socos a uma pessoa repetidamente, enquanto bebia num espaço de diversão noturna em Seul em setembro do ano passado, e também terá pontapeado e partido a porta de uma viatura da polícia em outubro do mesmo ano.
À ABC News, autoridades norte-americanas indicaram que, após ser libertado, o soldado passou cerca de uma semana sob observação numa base militar dos EUA na Coreia do Sul.
A 17 de julho, no final do processo, King foi escoltado por militares norte-americanos até ao Aeroporto Internacional de Incheon para um voo com destino aos Estados Unidos, mas nunca embarcou no avião - foi acompanhado até ao posto de controlo alfandegário, onde a escolta militar não tinha permissão para passar, e continuou sozinho no terminal.
King deveria ir para Fort Bliss, no Texas, onde era esperado para "ações de separação administrativa pendentes para condenação estrangeira" - algo que foi confirmado pela mãe do soldado.
A tour turística e o momento em que cruzou a fronteira
Contudo, sem que se esperasse, King não embarcou e, em vez disso, juntou-se a uma tour turística à aldeia fronteiriça coreana de Panmunjom, onde não vivem civis, e atravessou a fronteira para o Norte sem autorização.
Panmunjom está localizada dentro da Zona Desmilitarizada de 248 quilómetros de comprimento, que foi criada no final da Guerra da Coreia. Ocasionalmente, tem havido mortes e tiroteios na zona, mas também tem sido palco de numerosos encontros bilaterais e um ponto turístico popular.
Não é claro quando e como King comprou o bilhete para a tour.
"Soltou um 'ha ha ha' e simplesmente correu entre alguns prédios"
À CBS, uma testemunha contou que, depois de visitarem um edifício, Travis King começou a rir-se alto e correu entre os edifícios. "Esse homem soltou um alto 'ha ha ha' e simplesmente correu entre alguns prédios", disse. Apesar de os militares terem sido rápidos, não conseguiram apanhá-lo antes de este cruzar a fronteira.
Segundo as autoridades norte-americanas, o soldado atravessou a fronteira "deliberadamente, por sua própria vontade". O Pentágono disse ter entrado em contacto com oficiais militares norte-coreanos e admitiu estar "absolutamente preocupado com o bem-estar" do soldado". No entanto, assegurou estar a "monitorizar e a investigar" a situação.
A mãe de King, Claudine Gates, que mora em Racine, Wisconsin, tinha tido notícias do filho "há alguns dias", altura em que ele lhe tinha confirmado que ia para o Texas, e disse que não conseguia "imaginar" o filho a fazer "algo assim".
De realçar que os Estados Unidos proibiram a entrada de norte-americanos na Coreia do Norte devido "ao sério risco contínuo de prisão e detenção de longo prazo". Washington diz-se "incapaz de fornecer serviços de emergência a cidadãos americanos na Coreia do Norte" uma vez que "não tem relações diplomáticas ou consulares" com o país.
Esta proibição surgiu depois da morte de Otto Warmbier, detido na Coreia do Norte em 2015 por ter roubado um cartaz num hotel. O estudante norte-americano de 22 anos regressou em coma aos EUA depois de ter sido condenado a uma pena de trabalhos forçados e acabou por morrer.
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