A BBC pediu publicamente desculpas por uma pergunta feita por um jornalista, numa conferência de imprensa na segunda-feira com a capitã da seleção de Marrocos, reconhecendo esta terça-feira que a questão foi "inapropriada".
Em causa está uma questão colocada a Ghizlane Chebbak, após o jogo da seleção feminina de Marrocos contra a Alemanha, no Mundial de Futebol que se realiza na Austrália e na Nova Zelândia.
Numa competição onde os direitos de pessoas LGBTI´+ são um dos temas em destaque, promovidos especialmente pelas atletas (muitas das quais assumiram-se publicamente como pessoas queer), um jornalista questionou Chebbak se existiam jogadores gay na equipa.
"Em Marrocos, é ilegal ter uma relação homossexual. Têm jogadoras gay na vossa equipa? E como é a vida delas, em Marrocos?", perguntou o repórter.
A questão deixou a jogadora visivelmente desconfortável, e vários jornalistas falaram de um ambiente tenso na conferência de imprensa. Um oficial da FIFA pediu que os jornalistas se concentrassem em questões futebolísticas, mas o jornalista da BBC insistiu que a pergunta era pertinente.
Morocco captain Ghizlane Chebbak’s almost in disbelief reaction to the question, says it all.
— SHE scores bangers (@SHEscoresbanger) July 24, 2023
A completely unethical out of line question that poses safety concerns to the players he asking to be named.
Bizarre push followed.
pic.twitter.com/MKk84O774E
Muitas pessoas nas redes sociais, incluindo atletas e mesmo jornalistas, salientaram que a pergunta é "perigosa", pois a homossexualidade é um crime em Marrocos e atos entre pessoas do mesmo sexo são considerados "comportamentos desviantes", podendo ser punidos com até três anos de prisão, segundo a organização Human Rights Watch. Caso respondesse à questão, a jogadora podia, como tal, colocar atletas em risco de perseguição judicial no país.
Citado pelo The Guardian, um porta-voz da BBC reconheceu que "a questão foi inapropriada". "Esperamos não ter causado mal ou preocupação", acrescentou a emissora.
Ao jornal britânica, uma jornalista da CBC Sports, Shireen Ahmed, comentou que o caso "não é uma questão de liberdade jornalística", e o profissional devia pensar nas consequências da pergunta.
"Pode-se perguntar sobre leis sociais em diferentes locais sem colocar em risco as pessoas. Os jornalistas têm a obrigação de ser justos, corretos e praticar com cuidado. Se a cobertura magoa alguém, não só é pouco ético como perigoso", argumentou a jornalista.
Os direitos LGBTI+ tornaram-se num grande ponto de debate e contestação nas últimos Mundiais organizados pela FIFA. Depois de, no Mundial de Futebol masculino no Qatar, a organização ter impedido quaisquer demonstrações pelos direitos de pessoas queer (fossem de protesto ou de promoção), o mesmo foi restringindo para a competição feminina - isto apesar de, como já foi referido, muitas seleções terem nos seus plantéis jogadores queer -, como a proibição de as capitãs usarem braçadeiras arco-íris durante os jogos.
FIFA are not allowing @FIFAWWC captains to wear pride armbands at the 2023 Women's World Cup... But they didn't say anything about painting your nails
— KEEPUP (@keepupau) July 24, 2023
New Zealand captain Ali Riley has painted her nails rainbow colours as a gesture to the LGBTIQA+ community ️#FIFAWWC… pic.twitter.com/h8EFjcmOLc
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