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Espanha. Governo de esquerda ou repetição de legislativas?

Uma semana após as eleições espanholas, o vencedor, o Partido Popular (PP), parece ter perdido em definitivo qualquer possibilidade de formar governo, pelo que os dois cenários que se mantêm são um executivo de esquerda ou repetição das legislativas.

Espanha. Governo de esquerda ou repetição de legislativas?
Notícias ao Minuto

08:46 - 29/07/23 por Lusa

Mundo Eleições em Espanha

Estes são alguns pontos essenciais do resultado das eleições em Espanha de 23 de julho e os cenários possíveis neste momento em relação à formação do novo governo:

Parlamento dividido

O PP (direita) venceu as eleições, mas sem alcançar uma maioria absoluta com o VOX, de extrema-direita, com quem governa em coligação em três regiões autónomas.

A maioria absoluta são 176 deputados e PP e VOX elegeram 169 em conjunto (que podem passar a 170 com a distribuição dos votos da emigração, ainda por concluir).

O segundo partido mais votado foi o Partido Socialista (PSOE), do atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez.

O PSOE e a plataforma de extrema-esquerda Somar, que assumiram querer governar em coligação, têm 153 lugares no parlamento (que podem passaar a 152 por acusa dos votos dos espanhóis no estrangeiro).

Governo de direita quase impossível

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, disse na segunda-feira que, como presidente do partido mais votado, iria tentar formar governo de imediato e que já tinha contactado o VOX, o Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em castelhano), a União do Povo Navarro (UPN) e Coligação Canária.

A soma dos deputados do PP, VOX, PNV, UPN e Coligação Canária dá 177 lugares, ou seja, uma maioria absoluta, mas logo no mesmo dia, o Partido Nacionalista Basco, uma formação conservadora que elegeu cinco parlamentares, disse a Feijóo que recusava sequer iniciar conversações para a viabilização de um governo de direita.

O PNV viabilizou na última legislatura o atual Governo de esquerda e extrema-esquerda liderado por Pedro Sánchez e já tinha afirmado, durante a campanha eleitoral, que o PP ultrapassou uma linha inaceitável ao fazer coligações de governo com o VOX em várias regiões autónomas e municípios.

A recusa do PNV em negociar com o PP inviabiliza um governo de direita, já que Feijóo só poderia agora aspirar a ser primeiro-ministro se deputados socialistas ou de outros de partidos de esquerda e nacionalistas se abstivessem, o que todos rejeitam fazer.

Possibilidade de um governo de esquerda

O PSOE foi o segundo partido mais votado, mas ao contrário do PP tem ainda possibilidades de conseguir os apoios parlamentares para nova investidura de Pedro Sánchez como primeiro-ministro.

O partido socialista tem mais aliados no parlamento do que o PP e, se chegar a acordo com todos eles, Sánchez tem possibilidade de voltar a ser primeiro-ministro, à frente de um governo de coligação PSOE/Somar.

Estão em causa cinco partidos regionalistas, nacionalistas e separatistas que já viabilizaram o atual governo, mas a que este ano se junta mais um, o Juntos pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente do Governo Regional Carles Puigdemont.

O JxCat, independentista, votou contra a investidura de Sánchez na última legislatura, mas desta vez o lider socialista terá de contar com o apoio dos sete deputados do partido catalão para voltar a liderar o Governo.

Nenhum dos partidos com quem o PSOE e o Somar têm de negociar rejeitaram, para já, a possibilidade de conversações e apoio a um novo governo de esquerda.

Na verdade, a maioria já apelou ao PSOE para iniciar negociações, mas Sánchez não voltou a falar publicamente sobre as eleições desde domingo à noite e não revelou ainda como e quando pretende iniciar a formação do novo governo.

Dirigentes socialistas disseram, ao longo da última semana, que o PSOE vai fazer negociações de forma discreta e só após umas semanas de férias, remetendo eventuais novidades para depois da constituição formal do parlamento, em 17 de agosto.

Passos para um Governo ou novas eleições

O dia 17 de agosto é a única data concreta prevista na lei espanhola em relação à nova legislatura saída das eleições de 23 de julho.

Nesse dia formam-se as Cortes (Congresso dos Deputados e Senado, as duas câmaras do parlamento espanhol) com todos os eleitos e arranca formalmente a nova legislatura.

A seguir há alguns dias para a constituição formal dos grupos parlamentares e depois, mas sem prazos definidos, o Rei de Espanha fará uma ronda de contactos para tentar indicar um candidato a primeiro-ministro a ser votado no Congresso.

Habitualmente, o Rei inicia os contactos com os partidos cerca de duas semanas após a tomada de posse dos novos deputados.

O nome proposto por Felipe VI (se houver algum após essa primeira ronda de audiências) será votado no plenário se o próprio assim o quiser, porque pode recusar-se, por não ter apoios suficientes, como já aconteceu no passado. Neste cenário, o Rei poderá repetir as audiências semanas mais tarde.

Se o candidato indicado pelo Rei se submeter à votação no parlamento será primeiro-ministro caso consiga uma maioria absoluta. Se isso não acontecer, haverá uma segunda volta 48 horas depois e bastará uma maioria simples para ser investido como primeiro-ministro.

Se, porém, esta votação não der resultados, começa então uma contagem de dois meses para haver novo candidato a chefe do Governo e uma investidura.

Esgotados esses dois meses, dissolvem-se as Cortes automaticamente e repetem-se as eleições 47 dias depois da dissolução.

Eleições repetidas em 2016 e 2019

Espanha já repetiu as eleições por duas vezes, em 2016 e 2019, por nenhum candidato a primeiro-ministro ter sido aprovado pelo parlamento.

Em 2015, o então líder do PP e primeiro-ministro Mariano Rajoy venceu as eleições sem maioria absoluta e foi indicado pelo Rei para ser investido líder do Governo, mas recusou sequer apresentar-se ao parlamento para a votação, por não ter os apoios necessários.

As eleições foram repetidas em 2016, depois de uma tentativa falhada de investidura do socialista Pedro Sánchez, então na oposição.

Em 2019, foi o já primeiro-ministro Sánchez que falhou a primeira investidura e as eleições repetiram-se em novembro daquele ano.

Na história da democracia espanhola, já houve governos que tomaram posse apenas 29 dias após as eleições (Adolfo Suárez, em 1979) e outros que só o fizeram passados 314 dias e após a repetição das legislativas (Mariano Rajoy, em 2015/2016).

Leia Também: PP pode 'tirar' deputado ao PSOE e colocá-lo na dependência dos catalães

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