As autoridades francesas retomaram na segunda-feira as buscas pelo menino Émile, desaparecido em Haut-Vernet, utilizando novamente cães especializados na deteção de cadáveres e expandindo o raio das operações de busca para cinco quilómetros em torno da localidade nos Alpes franceses.
Os cães já tinham acompanhado os investigadores nas operações da semana passada, mas, segundo adianta o canal francês BFMTV, o objetivo será agora aumentar os parâmetros para tentar, finalmente, encontrar rasto sobre o paradeiro da criança de dois anos e meio.
A BFMTV também avançou que os animais estarão na região de Alpes-de-Haute-Provence até quinta-feira à noite. Ao todo, foram mobilizados sete cães, e está também em campo um drone para ajudar a polícia a explorar áreas mais inacessíveis das montanhas na região francesa.
A par das buscas, as autoridades terão proibido também a ceifa na região, para impedir que os agricultores interfiram com as operações.
"Assim que a parte técnica for terminada, os investigadores vão 'atacar' a parte humana", acrescentou um procurador aos órgãos locais, sugerindo, sem esclarecer, que a polícia aguarde apenas pela confirmação total do desaparecimento de Émile para iniciar a investigação criminal. São esperadas mais entrevistas a residentes e a turistas locais por parte da polícia, para despistar totalmente os álibis de todos os (poucos) habitantes de Haut-Vernet - incluindo àqueles que, não morando na região, têm habitações ou negócios lá.
O BFMTV acrescenta que a situação "começa a tornar-se tensa entre os habitantes e os jornalistas", devido à forte presença da imprensa francesa numa região habituada à paz dos Alpes e à longa distância dos holofotes.
Família ligada a fanatismo religioso
Émile desapareceu na tarde do dia 8 de julho, há quase um mês, quando terá saído sozinho da casa dos avós no bairro de Vernet, um povoado ainda mais afastado e isolado da já pequena localidade de Haut-Vernet, onde os avós tinham uma casa de férias.
Ao longo dos dias que se seguiram, as esperanças em encontrar o menino com vida tornaram-se cada vez mais escassas, especialmente depois de análises forenses a vestígios de sangue terem concluído que nenhum dos dados encontrados estava associado a Émile.
A família do menino também passou a ficar debaixo de um grande escrutínio, especialmente depois de se saberem as ligações do pai à extrema-direita francesa e à pertença a uma organização católica extremamente ortodoxa. Os membros da família continuam em Haut-Vernet e, no domingo, foram vistos numa missa numa vila vizinha.
Émile é oriundo de La Bouilladisse, uma localidade situada perto de Marselha, na região da Côte D'Azur. O autarca de La Bouilladisse explicou que a família era muito autossuficiente, "muito religiosa e muito discreta", que ia à missa em latim a Marselha em vez de ir à igreja da sua localidade, e com uma grande parte do núcleo familiar a ser escolarizado a partir de casa.
Os pais de Émile mudaram-se para La Bouilladisse como um casal há um ano, e o seu pai, Colomban Soleil, tem sido um nome particularmente analisado na sequência do desaparecimento. Soleil, um engenheiro de 26 anos de Marselha, fez parte do movimento neofascista Bastion Social Marseille e de outros grupos de extrema-direita no sul de França.
Segundo o jornal L'Indépendant, Colomban Soleil foi absolvido em 2018 por suspeitas de ter agredido uma pessoa num ataque alegadamente xenófobo e, em 2021, o seu nome surgiu numa lista de apoio a Éric Zemmour - o candidato presidencial francês que se colocou ainda mais à direita que Marine Le Pen e que se tornou popular pelas suas propostas extremamente islamofóbicas, como banir o nome Mohammed ou destruir mesquitas.
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