Na segunda-feira, o presidente da Autoridade Nacional de Eleições (ANE) anunciou a vitória por referendo de um projeto de uma nova Constituição que dá ao Presidente Touadéra a possibilidade de se candidatar a um terceiro mandato.
Questionado sobre as suas intenções, numa entrevista exclusiva à agência France-Presse e à TV5 Monde, Touadéra, 66 anos, respondeu: "Esta questão não me incomoda, mas penso que é demasiado cedo".
"Estou a meio do meu mandato, por isso não estou a pensar no próximo (...) Ainda há trabalho a fazer e muitos desafios para o povo centro-africano aos quais tenho de dar resposta", declarou.
Desde o início da campanha para o referendo, a oposição acusou Touadéra de perpetrar "um golpe constitucional" e de querer continuar a ser "Presidente vitalício" de um dos países mais pobres do mundo, tudo isto sob a proteção de mercenários da empresa russa de segurança privada Wagner, que começou a operar na RCA a partir de 2018.
"Acredito que o referendo é a melhor forma de exprimir a democracia", vincou, acrescentando que os eleitores "compareceram em massa para votar (...) é um desprezo pelo povo centro-africano quando eles (oposição) dizem isso", afirmou.
Na entrevista, Touadéra frisou que não está contra a França.
As relações entre Bangui e Paris deterioraram-se fortemente a partir da aproximação da RCA à Rússia em 2018.
"Não somos contra a França (...) Acabo de receber [quarta-feira] o novo embaixador francês na República Centro-Africana. Isto significa que a cooperação entre a França e a República Centro-Africana continua, e estamos a tentar melhorá-la e consolidá-la no interesse das nossas duas populações", disse Touadéra.
Centenas de mercenários do grupo russo Wagner desembarcaram na RCA em 2018, oficialmente, de acordo com Moscovo, para treinar o exército, mas sobretudo porque o regime de Touadéra acusava a França, antiga potência colonial, de lhe virar progressivamente as costas.
Bangui acusou Paris de apoiar um embargo de armas que, segundo as autoridades centro-africanas, as impediu de armar as suas forças armadas para combater vários grupos rebeldes armados que ocupam dois terços do território desde o início da guerra civil em 2013.
A guerra civil em curso desde 2013 espoletou quando uma coligação de grupos armados predominantemente muçulmanos, a Séléka, derrubou o então Presidente, François Bozizé.
Em seguida, Bozizé organizou e armou as chamadas milícias anti-Balaka, maioritariamente cristãs e animistas, numa tentativa de recuperar o poder.
As Nações Unidas mantêm uma missão no país (Minusca), na qual Portugal participa com 215 militares e 45 meios, além de missões da União Europeia, com 31 militares portugueses.
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