Níger. Sucesso do golpe de Estado pode ser fim da democracia em África

Um destacado dirigente do partido do Presidente nigerino deposto pelos militares advertiu hoje que, se a junta for bem-sucedida, a democracia e segurança na região e em África ficarão ameaçadas.

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Lusa
18/08/2023 11:28 ‧ 18/08/2023 por Lusa

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Boubacar Sabo, secretário-geral adjunto do Partido Nigerino para a Democracia e o Socialismo, a formação de Mohamed Bazoum, disse que o Presidente foi "raptado" por membros da guarda presidencial que o derrubaram em 26 de julho e que, desde então, o mantêm em prisão domiciliária.

Sabo é um dos poucos críticos declarados da junta militar golpista, autodenominada Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria, que ainda se encontra no país e não está escondido.

"O que está a acontecer no Níger, se for bem-sucedido, é o fim da democracia em África. Acabou-se. ... Se lutamos hoje, é para evitar que este tipo de coisas aconteça e para garantir um futuro para o nosso continente", defendeu Sabo.

Numa região repleta de golpes de Estado - como no Mali, Burkina Faso e Guiné-Conacri -, o Níger era visto como um dos últimos países democráticos com os quais as nações ocidentais podiam estabelecer parcerias para fazer face a uma crescente insurreição fundamentalista islâmica ligada à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico.

O derrube do Presidente há quase um mês foi um rude golpe para os Estados Unidos, a França e outras nações europeias, que investiram centenas de milhões de euros em assistência militar no treino do exército do Níger e - no caso dos franceses - na condução de operações militares conjuntas.

Desde que os militares tomaram o poder, no que analistas e habitantes locais dizem ter sido desencadeado por uma luta interna entre Bazoum e o chefe da guarda presidencial, o general Abdourahmane Tiani, que diz estar agora no comando, têm estado a reforçar o apoio da população, explorando as queixas contra o antigo governante colonial, a França, e silenciando os opositores.

Vários ministros e políticos de relevo estão detidos, com grupos de defesa dos direitos humanos a afirmarem que não conseguem ter acesso a eles, enquanto outros foram ameaçados, denunciou Sabo.

O dirigente crítico dos golpistas considerou que a onda de apoio ao regime na capital era enganadora, porque a junta estava a pagar às pessoas para se manifestarem a seu favor.

Niamey também nunca foi uma fortaleza para Bazoum e a junta está a ser oportunista, adiantou.

As manifestações a favor da junta acontecem quase diariamente, com centenas e por vezes milhares de pessoas a marchar pelas ruas, buzinando os carros, agitando bandeiras nigerinas e russas e gritando "abaixo a França".

A junta rompeu os acordos militares com a França e pediu ajuda aos mercenários do grupo russo Wagner.

Mas apesar da frustração real dos partidos políticos e das organizações da sociedade civil em relação ao partido de Bazoum, incluindo o desacordo com a sua aliança militar com a França, não é claro o apoio genuíno que a junta tem na capital e em todo o país, dizem peritos sobre a região do Sahel.

"Embora muitos dos manifestantes possam apoiar a transição, é provável que uma grande parte deles esteja presente apenas por razões monetárias ou por curiosidade e pela emoção de fazer parte da multidão", considerou Adam Sandor, investigador de pós-doutoramento da Universidade de Bayreuth.

A junta poderá enfrentar desafios com a sua base de apoio em todo o país, se não conseguir apaziguar financeiramente as elites locais e se o exército continuar a sofrer perdas devido à crescente violência fundamentalista, acrescentou.

Os ataques dos fundamentalistas têm vindo a aumentar desde o golpe de Estado, tendo pelo menos 17 soldados sido mortos e 20 feridos no início desta semana durante uma emboscada, no que foi o primeiro grande ataque contra o exército do Níger em seis meses.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ameaçou tomar medidas militares se o Níger não libertar e reintegrar Bazoum.

Para tal ativou uma força de "prontidão" e, hoje, os seus líderes militares concluem em Acra reunião de dois dias sobre os próximos passos a dar.

Entretanto, em Niamey e em todo o país, está prevista para sábado uma campanha de recrutamento de voluntários, em que as pessoas se podem registar para combater e ajudar noutras necessidades, para que a junta tenha uma lista no caso de precisar de pedir ajuda.

"Sabemos que o nosso exército pode ser menor em termos de números do que os exércitos (que estão a chegar)", disse Amsarou Bako, um dos organizadores.

"Aqueles que estão a chegar têm informações sobre o nosso exército", disse.

Leia Também: Maioria dos países da CEDEAO aceitam intervenção militar no Níger

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