O embaixador da Líbia nas Nações Unidas, Taher al-Sonni, respondeu assim às palavras do representante especial da ONU para a Líbia, Abdoulaye Bathily, que já havia manifestado a sua "preocupação com a grave situação humanitária e os direitos dos migrantes, refugiados e requerentes de asilo na fronteira entre a Líbia e a Tunísia".
Bathily, no seu relatório regular ao Conselho de Segurança da ONU, apelou hoje expressamente aos Governos da Líbia e da Tunísia para "acabarem com as expulsões" e instou-os a "garantir que as pessoas (migrantes) sejam enviadas para locais seguros" e que as agências da ONU tenham acesso a eles.
Al-Sonni, sem citar o representante da ONU, respondeu pouco depois que "alguns Estados tentam explorar as circunstâncias" que o seu país atravessa -- em referência à guerra quase crónica entre o leste e o oeste, que possuem governos próprios rivais -- e tentam "assentar os imigrantes na Líbia".
"Já sublinhámos a nossa rejeição categórica a qualquer forma de acordo. (...) A nossa rejeição é clara e inequívoca", insistiu.
Hoje, o ministro do Interior líbio do Governo de Unidade Nacional, Imad Trabelsi, confirmou a deportação de 300 migrantes de nacionalidade egípcia e o repatriamento de cerca de 176 nigerianos no âmbito dos planos de contenção do fluxo migratório no país Magrebe.
Trabelsi considerou que a Líbia "paga uma fatura enorme" pela imigração ilegal no seu território e defendeu que "este ano foi significativamente reduzido o fluxo de migrantes por via marítima para os países da União Europeia", que agora partem maioritariamente da Tunísia.
De acordo com o último relatório da Organização Mundial para as Migrações (OIM), a Líbia acolhe mais de 700 mil migrantes, principalmente do Níger, Egito, Sudão, Chade e Nigéria. Mais de 47 mil estão registados como refugiados e requerentes de asilo, segundo a contagem do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Mais de 2.000 migrantes terão morrido na rota do Mediterrâneo Central desde o início do ano, indicou hoje a OIM, receando, no entanto, que o número real de vítimas seja muito superior.
A rota do Mediterrâneo Central, considerada como uma das mais mortíferas, sai da Argélia, Tunísia e Líbia em direção à Europa, nomeadamente para as costas italianas e maltesas.
"Até à data, 2.013 migrantes morreram no Mediterrâneo Central em 2023, segundo dados atualizados da OIM", revelou o porta-voz desta organização do sistema das Nações Unidas, Flavio di Giacomo, numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).
O porta-voz admitiu que este número é "uma estimativa revista em baixa".
"As frágeis embarcações que zarpam da Tunísia provocaram provavelmente muitos naufrágios que não são conhecidos", afirmou.
À agência noticiosa espanhola EFE, o porta-voz da OIM esclareceu que as 2.013 mortes confirmadas pela organização são apenas referentes à rota migratória do Mediterrâneo Central, onde 974 pessoas morreram no mesmo período em 2022.
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