Hoje, o seu nome estava na lista de passageiros de um avião privado Embraer pertencente ao grupo Wagner que se despenhou na Rússia, matando as 10 pessoas que seguiam a bordo.
A 24 de junho, um dia depois do início da revolta dos mercenários Wagner, que se encaminhavam para Moscovo, Putin condenou a "traição" de Prigozhin, afirmando ter sido "provocada por ambições desmesuradas e interesses pessoais".
O impetuoso multimilionário de cabeça rapada e traços duros acabara de anunciar que se tinha apoderado "sem disparar um tiro" do quartel-general do exército russo em Rostov, centro nevrálgico das operações na Ucrânia, depois de, na véspera, ter acusado o exército russo de bombardear acampamentos do seu grupo.
Depois, os seus homens, "dispostos a morrer", marcharam em direção a Moscovo, abatendo aviões do exército russo, enquanto o mundo sustinha a respiração.
Ao fim de 24 horas, o líder mercenário de 62 anos desistiu do golpe e negociou um exílio para ele e os seus seguidores na Bielorrússia. Escapou à prisão e à justiça russas, mas muitos diziam que tinha a vida a prazo, depois de se insurgir contra o regime de Putin.
Sinal da opacidade do acordo, Prigozhin regressou, contudo, à Rússia, tendo mesmo sido recebido no Kremlin dias após a revolta. E, apesar de já não aparecer em público, os 'blogs' especializados seguiam-no, a ele e aos seus aviões.
Finalmente, esta semana, parecia ser de África o último vídeo que divulgou, assegurando agir para a grandeza da Rússia naquele continente, onde os seus homens fazem há anos o trabalho 'sujo' do Kremlin (Presidência russa).
Em países como República Centro-Africana, Mali, Líbia, Síria, o grupo Wagner, cuja existência o Kremlin nem sequer admitia até ao final de 2022, tornou-se conhecido em 10 anos como o cúmplice de regimes que queriam livrar-se de padrinhos ocidentais ou que procuravam combatentes discretos e implacáveis.
A guerra na Ucrânia forneceu ao empresário uma oportunidade de ouro para sair da sombra.
Recrutou dezenas de milhares de prisioneiros para irem combater para a frente de batalha, onde o exército russo estava em dificuldades.
Ao contrário dos mais altos responsáveis russos, o líder mercenário mostrava-se no campo de batalha e filmava os cadáveres dos seus homens para exigir mais e mais munições.
Em maio de 2023, após quase um ano de combates sangrentos, Prigozhin atingiu o seu objetivo reivindicando a tomada pelo grupo Wagner de Bakhmut (leste da Ucrânia) e celebrando uma rara vitória russa, apesar do elevado preço em vidas humanas, e apesar da continuação dos combates - até hoje - nos arredores da cidade devastada.
Mas foi também por ocasião dessa batalha que as tensões se agravaram com o chefe do Estado-Maior, general Valeri Guerassimov, e o ministro da Defesa, Serguei Shoigu: Prigozhin acusou-os de privarem o grupo Wagner de munições e fez uma série de vídeos insultando os comandantes russos - algo impensável para qualquer outra pessoa na Rússia, num contexto de repressão total.
A sua passagem da obscuridade para a ribalta começou em setembro de 2022, quando o exército russo sofria revés atrás de revés na Ucrânia, uma humilhação para os belicistas como ele.
Saiu então da 'toca' admitindo, pela primeira vez, ser de facto o fundador, em 2014, do grupo paramilitar Wagner e impondo-se como um líder e um comunicador ímpar na plataforma digital Telegram, com os seus vídeos e as suas mensagens áudio em que não hesitava em ser vulgar.
"Estes tipos, heróis, defenderam o povo sírio, outros povos de países árabes, os indigentes africanos e latino-americanos, e tornaram-se um pilar da nossa pátria", afirmou sobre os seus homens.
Em outubro, levou a sua notoriedade ainda mais longe, inaugurando com grande pompa, num edifício envidraçado de São Petersburgo (noroeste), a sede da "empresa militar privada Wagner".
Mestre da provocação, divulgou em fevereiro um vídeo a bordo de um avião de guerra em que propunha ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que decidisse o futuro de Bakhmut numa batalha aérea.
Para formar um exército à altura das suas ambições, Prigozhin, originário, como Putin, de São Petersburgo, recrutou a população prisional para combater na Ucrânia em troca de uma amnistia.
O universo das prisões não lhe é estranho, tendo ele mesmo passado nove anos encarcerado durante a era soviética, por crimes de delito comum.
Foi libertado em 1990, quando a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) estava a desintegrar-se, e montou um negócio de sucesso a vender cachorros quentes.
Avançou depois para outro segmento, abrindo um restaurante de luxo que se tornou um dos mais concorridos de São Petersburgo, enquanto Putin experimentava, ao mesmo tempo, a sua própria ascensão política.
Quando, em 2000, Vladimir Putin se tornou Presidente, o seu grupo de restauração passou a servir o Kremlin, o que lhe valeu o título de "cozinheiro de Putin" e a reputação de se ter tornado multimilionário graças aos contratos públicos.
Terá sido esse dinheiro que utilizou para fundar o grupo Wagner, exército privado inicialmente composto por veteranos das forças armadas e dos serviços especiais russos.
Em 2018, quando se suspeitou de que o seu grupo - cuja presença já fora notada na Ucrânia e na Síria - se tinha instalado em África, três jornalistas russos que investigavam as atividades da empresa paramilitar foram mortos na República Centro-Africana.
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