"Tivemos um historial de muito sucesso este ano e no ano passado", declarou Scholz aos jornalistas no final do encontro, mas analistas políticos comentaram que nem o próprio chanceler, com uma expressão quase fúnebre, acredita realmente nesse sucesso, e certamente o povo alemão também não, atendendo aos estudos de opinião, que revelam enorme descontentamento com o governo, cujo "historial" é aplaudido apenas por 19% dos inquiridos.
A chamada coligação "semáforo" -- a primeira coligação nacional multipartidária na Alemanha em décadas --, que sucedeu aos 16 anos de Angela Merkel (CDU, centro-direita) é constituída pelos socialistas do SPD, de Scholz, pelos Verdes e pelos liberais do FDP, e desde a sua entrada em funções, em dezembro de 2021, as previsíveis dificuldades de entendimento sobretudo entre Verdes e liberais, com agendas bem distintas, tornaram-se mais profundas e públicas.
Num contexto já difícil, de elevada inflação, economia quase estagnada, com a guerra na Ucrânia -- a questão do apoio militar alemão aos ucranianos é um tema fraturante na sociedade alemã -- e o aumento da imigração, os partidos da coligação, sobretudo Verdes e FDP, têm estado em desacordo sobre quase toda a agenda política do governo, a começar pela política económica, mas também energética, ambiental, de defesa, entre outras, e são constantes os ataques e acusações recíprocos na 'praça pública'.
A tensão é particularmente evidente entre o líder do FDP e ministro das Finanças, Christian Lindner, e os ambientalistas, e qualquer tentativa do governo de projetar uma nova imagem de unidade após o verão foi desde logo desfeita na primeira reunião após as férias, realizada a 16 de agosto passado.
Na ocasião, a ministra para as Famílias, Lisa Paus, dos Verdes, bloqueou um plano dos liberais para o desagravamento fiscal das empresas, isto depois de ter tentado em vão, ao longo dos últimos meses, 'luz verde' do ministro das Finanças para um aumento avultado do financiamento do abono de família e reforma do bem-estar das crianças.
O próprio Olaf Scholz já não consegue esconder frustração com as públicas divergências entre os seus parceiros de coligação, tendo admitido esta semana que só pode advertir contra as mesmas.
"Devemos concentrar-nos mais em realçar os êxitos do trabalho do governo e conduzir internamente as discussões necessárias sobre os nossos planos", advertiu o chanceler.
Ainda com dois anos de mandato pela frente, o governo de Scholz tem, no entanto, poucos motivos para encarar o futuro com otimismo, e o cenário de uma eventual reeleição em 2025 parece já uma miragem, atendendo às sondagens.
De acordo com uma sondagem publicada pela estação pública ARD na quinta-feira, apenas 19% dos alemães dizem-se satisfeitos ou muito satisfeitos com o governo de Scholz, o que representa mais uma queda, de dois pontos percentuais, face ao mês anterior, e o próprio chanceler é a figura menos popular do governo, com uma taxa de aprovação pessoal de apenas 26%.
As sondagens mais recentes penalizam os três partidos da coligação: atualmente o SPD reúne apenas 18% das intenções de voto, atrás não só da CDU, com 26%, como também do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha), com 21%. Na quarta posição surgem os Verdes, com 14%, e os liberais do FDP não passam dos 07%.
As sondagens são não apenas desanimadoras para o governo, como ameaçam alimentar ainda mais os conflitos, já que, estando os três partidos em 'baixa', a tentação será a de tentar agradar mais às respetivas bases, comentam analistas, unânimes em prognosticar que esta coligação semáforo dificilmente passará do 'sinal vermelho'.
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