As possibilidades abertas pelo acordo de cessar-fogo e soluções para Gaza

Israel e o Hamas aceitaram hoje um acordo para um cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns, após 15 meses de uma guerra que deixou dezenas de milhares de mortos e mergulhou o território palestiniano no caos.

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© Dawoud Abo Alkas/Anadolu via Getty Images

Lusa
15/01/2025 22:03 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

Médio Oriente

As negociações indiretas, paralisadas há meses, aceleraram-se nos últimos dias com vista a uma trégua associada à libertação dos reféns detidos na Faixa de Gaza desde o sangrento ataque do Hamas contra Israel a 07 de outubro de 2023, que desencadeou uma ofensiva israelita que reduziu uma grande parte do território a escombros e causou uma grande crise humanitária.

 

Eis alguns pontos essenciais sobre as possibilidades abertas pelo acordo, para atender a necessidades humanitárias imediatas, mas também a soluções para governação e reconstrução:

Os termos para o calar das armas

O acordo negociado pelos mediadores internacionais - Qatar, Estados Unidos e Egito - e concluído poucos dias antes do regresso de Donald Trump à Casa Branca, prevê uma troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos detidos por Israel.

Numa primeira fase, deverão ser libertados 33 reféns, começando por mulheres e crianças, em troca de mil palestinianos detidos por Israel, segundo duas fontes ligadas às negociações.

A segunda fase consistirá na libertação dos últimos reféns, "soldados e homens em idade de recrutamento", bem como na devolução dos corpos dos reféns mortos, segundo o Times of Israel.

Um responsável israelita, no entanto, avisou terça-feira que Israel "não deixaria Gaza até que todos os reféns tivessem regressado, os vivos e os mortos".

Em Washington, o Presidente norte-americano, Jie Biden, assegurou ainda que os reféns norte-americanos serão libertados como parte do acordo, que prevê a libertação, em várias fases, de dezenas dos detidos pelo Hamas e de centenas de prisioneiros palestinianos em Israel.

Segundo o Presidente cessante, o acordo entre Israel e o Hamas inclui um "cessar-fogo total e completo", seguido, numa segunda fase, de um "fim permanente da guerra".

"A primeira fase durará seis semanas. Inclui um cessar-fogo total e completo, a retirada das forças israelitas de todas as zonas povoadas de Gaza e a libertação dos reféns do Hamas", disse o Presidente norte-americano.

"Durante as próximas seis semanas, Israel negociará os termos necessários para alcançar a segunda fase, que é o fim permanente da guerra", acrescentou.

O acordo também permitirá a entrada da ajuda humanitária no território devastado por 15 meses de guerra.

  

Pronto para reconstruir

À medida que as negociações avançavam, Israel aumentou os ataques mortais na Faixa de Gaza, alegando ter como alvo os combatentes do Hamas.

Hoje, 27 pessoas foram mortas novamente, segundo os serviços de emergência, nomeadamente em Deir el-Balah, no centro do território, e na cidade de Gaza, no norte, onde um ataque atingiu uma escola que abrigava pessoas deslocadas.

Quando o cessar-fogo foi anunciado, milhares de palestinianos exultaram em toda a Faixa de Gaza, cujos 2,4 milhões de habitantes fugiram das suas casas na tentativa de escapar aos combates e à violência.

Apenas uma trégua de uma semana foi observada no final de novembro de 2023 e as negociações levadas a cabo desde então foram recebidas com intransigência de ambos os lados.

Mas as conversações intensificaram-se no período que antecedeu o regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, a 20 de janeiro, num clima de aumento da pressão internacional sobre as diferentes partes.

Trump prometeu recentemente "o inferno" para a região se os reféns não fossem libertados antes do seu regresso.

Das 251 pessoas sequestradas a 07 de outubro de 2023, 94 ainda estão mantidas como reféns em Gaza, 34 das quais estão mortas, segundo o exército israelita.

O ataque do Hamas resultou na morte de 1.210 pessoas do lado israelita, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais de Telavive.

Pelo menos 46.707 pessoas, a maioria civis, foram mortas na campanha militar israelita de retaliação na Faixa de Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados fiáveis pelas Nações Unidas.

Segundo o exército israelita, 408 dos seus soldados foram mortos em combate.

 

O futuro em suspenso

Já minada antes da guerra por um bloqueio israelita imposto desde 2007, pela pobreza e pelo desemprego, a Faixa de Gaza emerge da guerra mergulhada no caos.

As Nações Unidas estimaram que a reconstrução do território, mais de metade do qual foi destruído, levaria até 15 anos e custaria mais de 50 mil milhões de euros. As infraestruturas, especialmente a rede de distribuição de água, foram fortemente danificadas.

A fome, o frio e o desespero são a realidade nas instalações improvisadas onde a população se abriga em massa. A maioria das crianças está fora da escola há mais de um ano. Apenas alguns hospitais ainda funcionam parcialmente.

O Crescente Vermelho Egípcio começou já a preparar camiões de ajuda humanitária para entrar em Gaza a partir da passagem de Rafah, fechada desde maio passado, após o acordo de tréguas entre Israel e Hamas, segundo fontes da organização.

As fontes, que pediram anonimato, indicaram à agência noticiosa espanhola EFE que os comboios de ajuda humanitária estão prontos para entrar no primeiro dia em que o pacto entrar em vigor, para prestar assistência aos palestinianos no enclave "devastado e atolado numa catástrofe humanitária".

A partir do Cairo também, fontes dos serviços de segurança egípcios, citados pela imprensa local, adiantaram que as autoridades locais "estão em negociações para abrir a fronteira palestiniana de Rafah para permitir a entrada de ajuda internacional".

Com o silenciar das armas, o cessar-fogo deixa em suspenso o futuro político do território onde o Hamas, agora muito enfraquecido, tomou o poder em 2007, destituindo a Autoridade Palestiniana do Presidente Mahmoud Abbas.

A guerra em Gaza relançou a ideia de uma solução de dois Estados, israelita e palestiniano, para resolver o conflito israelo-palestiniano, defendida por grande parte da comunidade internacional, mas à qual Israel se opõe firmemente.

Israel, que tinha prometido destruir o Hamas após os ataques de 07 de outubro de 2023, diz que recusa uma retirada total do seu exército e recusa que Gaza seja administrada no futuro pelo Hamas ou pela Autoridade Palestiniana (AP).

Os palestinianos, por seu lado, dizem que o futuro de Gaza lhes pertence e que não tolerarão qualquer interferência estrangeira.

O secretário de Estado norte-americano cessante, Antony Blinken, propôs na terça-feira o envio de uma força de segurança internacional para Gaza e a colocação do território sob a responsabilidade das Nações Unidas.

Blinken disse que a AP, que tem autoridade administrativa parcial na Cisjordânia ocupada, deveria recuperar o controlo do território.

Leia Também: Pedro Nuno diz que acordo em Gaza é "boa notícia e sinal de esperança"

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