O cartaz de Anfisa Notora, jornalista nascida em Mariupol que vive há 13 anos em Espanha, é um de dezenas sobre a guerra na Ucrânia que esta tarde levou centenas de pessoas até à praça Porta do Sol, no centro de Madrid.
A concentração pretendeu assinalar o terceiro aniversário da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, pedir ao resto do mundo para não deixar de apoiar os ucranianos e lembrar que "a luta é também pela liberdade e pela democracia na Europa", como insistentemente repetiram todos os que usaram o microfone para se dirigir aos manifestantes ou como estava escrito em inúmeros cartazes.
"Gostava de ver aqui mais bandeiras da Europa", disse Anfisa Notora à Lusa, sempre com o discurso interrompido por lágrimas.
"Gostava que países como Portugal ou Espanha não tivessem vergonha de nos apoiar, este é o momento. Se calhar, no próximo ano, já não haverá nada que reivindicar", acrescentou.
O terceiro aniversário da "guerra grande" na Ucrânia - porque a guerra tem 11 anos e começou com a invasão russa da Crimeia - é "um momento muito doloroso" para Anfisa Notora, cuja cidade e região natal (Mariupol e Donbass) parecem estar prestes a ser "moeda de troca para saciar a besta russa".
"O mundo fala da Ucrânia, mas já não do Donbass, já o dão por perdido. Mas, até ao final da minha vida vou lutar pelo Donbass e passar a mensagem de que foi uma invasão, ninguém queria pertencer à Rússia", sublinhou, antes de deixar outra mensagem aos europeus em relação ao Presidente dos EUA, Donald Trump.
"Não é só para a Ucrânia que há uma mudança e não é só a nós que um grande aliado, os EUA, nos vira as costas e nos empurra para o precipício. É o final brusco da era do direito e dos valores humanos em todo o mundo. Só vale a força bruta", afirmou.
Trump é dos nomes mais repetidos pelos manifestantes que hoje estiveram na Porta do Sol, em Madrid, e também Luba Yarova, ucraniana de 49 anos, não entende "como os países não se levantam todos" perante afirmações do Presidente norte-americano insultuosas para os ucranianos e o seu Presidente, Volodymyr Zekensky, e as vias de diálogo que abriu com Moscovo.
"Esperava que houvesse aqui mais gente, mais ucranianos e especialmente que houvesse também espanhóis", disse Luba Yarova à Lusa.
Para a manifestação, Luba Yarova levou um cartaz sem palavras: o mapa da Ucrânia com "603,628 km2" estampado no centro.
"É o nosso território. É nosso, sem ocupação", explicou, também ela com as lágrimas a cortar em permanência o discurso.
Quase três anos após o início da invasão da Ucrânia, a Rússia controla pouco menos de 20% do território ucraniano, ou cerca de 110 mil quilómetros quadrados, segundo mapas do conflito reproduzidos por várias organizações e imprensa internacional.
Ao fim de 11 anos de invasão russa e guerra, Luba Yarov não esconde a desilusão e desesperança atual: "Morre muitíssima gente todos os dias. Todos os dias. Meio país está em ruínas. O mundo inteiro ouve-nos, mas não nos olha nos olhos. Desviam o olhar. Não pode ser".
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