A análise de especialistas publicada na revista The Lancet Planetary Health desafia as afirmações dos políticos de que alguns países desenvolvidos alcançaram um "crescimento verde" e revela que as reduções de emissões nestas nações ficam muito aquém dos objetivos climáticos do pacto de Paris.
Este acordo internacional, em vigor desde o final de 2016, procura limitar o aumento médio da temperatura global a 2 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais, redobrar esforços para não ultrapassar o nível de 1,5 graus no final deste século, bem como bem como a forma de alcançar a neutralidade climática em 2050.
O estudo publicado pela Lancet indica que, caso as tendências atuais se mantenham, serão necessários, em média, mais de 200 anos para que as emissões se aproximem de zero.
Os autores argumentam que a prossecução do crescimento económico nos países desenvolvidos não está em linha com os objetivos climáticos acordados internacionalmente e apelam a uma política climática transformadora.
"Não há nada de verde no crescimento económico nos países de rendimento elevado", sublinha o principal autor do estudo, Jefim Vogel, do Instituto de Investigação em Sustentabilidade da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
"É uma receita para o colapso climático e para mais injustiças climáticas. Chamar estas reduções insuficientes de emissões 'crescimento verde' é enganador", acrescenta.
De acordo com Jefim Vogel, para que o crescimento seja legitimamente considerado 'verde' este "deve ser consistente com os objetivos climáticos e os princípios de equidade do Acordo de Paris".
"Mas os países de rendimento elevado não alcançaram nada próximo disso e é muito pouco provável que o consigam no futuro", frisou ainda.
O estudo identifica 11 países desenvolvidos que alcançaram a 'dissociação', ou seja, a diminuição das emissões de carbono juntamente com o aumento do PIB, entre 2013 e 2019: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Luxemburgo, Países Baixos, Suécia e o Reino Unido.
Nenhum dos países desenvolvidos conseguiu reduções de emissões suficientemente rápidas para atingir o nível de Paris, alerta ainda o estudo.
Leia Também: ASEAN deve fortalecer "setor privado" como motor adicional de crescimento