O líder do CIR, David Miliband, frisou que a sua preocupação central é que a guerra de 19 meses e a crise humanitária resultante, causada pela invasão da Rússia e pelos ataques contínuos às infraestruturas civis, estejam a ser normalizadas pela comunidade internacional, apesar das necessidades na frente de batalha não diminuírem.
"Sabemos que os números de 2022 para a ajuda humanitária na Ucrânia não se repetirão", frisou à agência Associated Press (AP).
O IRC recebeu 40 milhões de dólares (cerca de 37 milhões de euros) em financiamento para operações na Ucrânia em 2022.
Em 2023, o grupo de ajuda recebeu quase menos de metade dessa quantia, com 27 milhões de dólares (cerca de 25 milhões de euros).
Existem atualmente 18 milhões de ucranianos em necessidade humanitária, cinco milhões de pessoas deslocadas internamente e seis milhões de refugiados que residem noutros países, realçou o líder do CIR, acrescentando que as mortes de civis e os níveis de deslocamento interno continuam a ser elevados e a atingir máximos, respetivamente.
Os mecanismos de sobrevivência dos cidadãos ucranianos têm-se esgotado após meses de guerra. Muitas famílias, especialmente aquelas que vivem perto das zonas da linha da frente e sem meios de subsistência, estão a ficar sem poupanças para comprar alimentos e mantimentos.
As minas ou munições não detonadas estão a arruinar os meios de subsistência dos agricultores e proprietários de gado, enquanto os bombardeamentos constantes aterrorizaram os civis e continuam a destruir inúmeras casas.
"Estes são todos os sintomas de uma crise prolongada", apontou, acrescentando que uma guerra prolongada na Ucrânia é um perigo iminente.
Miliband espera também que o próximo inverno seja especialmente frio e teme uma nova campanha russa para atingir a infraestrutura civil e energética, que no ano passado manteve muitos ucranianos sem energia durante os meses mais frios do ano.
Desde então, a Ucrânia melhorou as suas capacidades de defesa aérea.
O responsável desta ONG destacou que os doadores -- incluindo países da Europa, América do Norte e os estados do Golfo ricos em petróleo -- ainda expressam "um compromisso muito forte com a Ucrânia" e "não há recuo dos compromissos" assumidos, mas há necessidades que têm de ser satisfeitas em todo o mundo.
O IRC está ativo na Somália, na Nigéria, na Síria e no Afeganistão, países onde as guerras civis e as hostilidades duram há anos ou décadas.
Miliband alertou ainda que a ONG tem testemunhado como os conflitos prolongados podem facilmente "perder a atenção, perder o interesse e o anormal tornar-se normalizado".
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