O encontro de quinta-feira entre o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, e o primeiro-ministro albanês kosovar, Albin Kurti, será o primeiro desde que Josep Borrell convocou de urgência as duas partes em junho, que na ocasião se reuniram separadamente com o alto representante para a política externa da UE em pleno período de tensões relacionadas com as eleições nos municípios do norte do Kosovo e a detenção de polícias kosovares na Sérvia.
De acordo com a diplomacia de Bruxelas, na reunião de quinta-feira deve registar-se inicialmente um encontro separado, seguido de uma reunião trilateral, com as discussões centradas na aplicação do anexo dos acordos firmados em Ohrid, Macedónia do Norte, em 19 de março, no âmbito do processo de "normalização das relações".
Desde então foram registados poucos avanços, com novos picos de tensão no norte do Kosovo e pressões da comunidade internacional dirigidas a Pristina para que repita as eleições nos municípios de maioria sérvia, boicotadas por esta comunidade e na origem de confrontos violentos no final de maio que opuseram manifestantes sérvios a forças especiais da polícia kosovar e a militares da força da NATO no Kosovo (Kfor).
A estratégia da UE, que desde há uma década assume a função de mediador entre sérvios e kosovares, consiste em abordar questões pendentes e centrar-se no cumprimento dos acordos que nunca foram aplicados.
O objetivo é revitalizar as conversações para a normalização relações entre a Sérvia e a sua antiga província, que declarou a independência unilateral em 2008, e um eventual progresso no processo, ainda desigual, de adesão à UE.
O sucesso desta nova ronda de conservações estará dependente do afastamento dos presidentes de câmara albaneses -- eleitos após boicote generalizado da população local e sem qualquer representatividade -- das quatro municipalidades de maioria sérvia (Mitrovica Norte, Zvecan, Leposavic e Zubin Potok) e novas eleições.
A principal reivindicação dos sérvios, incluída numa declaração redigida em junho, consiste no estabelecimento de uma associação de municípios sérvios, que mereceu o acordo de Pristina nas negociações de 2013. E esta insistência perante a recusa de Pristina em concretizar o acordado significa que nem os sérvios kosovares nem Belgrado estão dispostos a promover novos passos na melhoria das relações com a liderança albanesa local sem a concretização desde objetivo.
A mais recente crise no Kosovo teve início em 26 de maio, quando os munícipes albaneses eleitos nas eleições boicotadas pelos sérvios (a taxa de participação rondou os 3%) entraram nos edifícios municipais em Zvecan, Leposavic e Zubin Potok, protegidos por forças especiais da polícia kosovar, tendo-se registado confrontos entre manifestantes sérvios e forças da Kfor, com um balanço de dezenas de feridos.
A situação agravou-se em 14 de junho, com a prisão de três oficiais da polícia do Kosovo. Belgrado argumentou que foram detidos em território da Sérvia central, enquanto Pristina disse que foram "raptados" no norte do Kosovo. Em 26 de junho, as autoridades sérvias libertaram os três polícias, que regressaram de imediato ao Kosovo.
Com esta medida, Vucic cumpriu as exigências dos Estados Unidos e UE, permitindo que a pressão ocidental fosse transferida para o primeiro-ministro kosovar, Albin Kurti.
Washington e Bruxelas vinham exigindo uma "urgente desescalada", com a retirada simultânea das forças especiais de polícia dos edifícios municipais no norte do Kosovo e o fim dos protestos sérvios. O ocidente também insistiu em novas eleições locais com a participação dos sérvios, e a aplicação do acordo de Ohrid e dos anteriores tratados.
A organização de novas eleições é considerada decisiva para o regresso de alguma estabilidade. Um os motivos que impeliram os sérvios a boicotar as eleições de 23 de abril residiu na recusa em estabelecer a associação de municípios sérvios por parte de Kurti, que em recentes declarações se pronunciou contra uma "República Sérvia do Kosovo" com elevada autonomia, e numa óbvia referência à entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina, em crescente litígio com o poder central de Sarajevo e o alto representante internacional.
O sucesso da nova reunião de quinta-feira estará dependente de um acordo sobre a repetição das eleições nos municípios de maioria de população sérvia e o estabelecimento da sua associação, e quando Kurti continua a referir, de forma algo difusa, que aceita um novo escrutínio caso sejam respeitados "todos os procedimentos legais".
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