"A solução para este tipo de conflito não é puramente militar (...) é preciso uma solução integrada", declarou à comunicação social o brigadeiro-general João Carlos de Bastos Jorge Gonçalves, momentos após assumir a liderança da EUTM-MOZ, em cerimónia oficial, em Maputo.
Para João Carlos de Bastos Jorge Gonçalves, os resultados alcançados pelas Forças Armadas de Defesa e Segurança de Moçambique, com o apoio das forças estrangeiras, é positivo e mostra avanços, mas a solução definitiva para o problema passa pela compreensão das dinâmicas da população.
"Temos de trabalhar ao nível das populações, é preciso entender melhor as populações. Tem de se trabalhar ao nível económico, social e de investimento, para que seja uma solução global e não pontual militarmente", frisou o antigo piloto de F-16 da Força Aérea Portuguesa (FAP).
"A componente militar é um pilar importante para dar essa segurança que proporciona todo o restante desenvolvimento, no sentido de obtermos essa satisfação e de garantirmos essa segurança através das Forças Armadas, mas também é importante que as populações tenham condições para economicamente e socialmente evoluírem", declarou.
O brigadeiro-general João Carlos de Bastos Jorge Gonçalves assumiu hoje, em Maputo, a liderança da EUTM-MOZ, substituindo o comodoro fuzileiro Rogério Paulo Figueira Martins de Brito, numa cerimónia que contou com as presenças do secretário de Estado da Defesa de Portugal, Carlos Pires, e do chefe de Estado major-general de Moçambique, Joaquim Rivas Mangrasse, os quais não prestaram declarações à comunicação social.
João Carlos de Bastos Jorge Gonçalves, de 54 anos, já comandou a Zona Aérea dos Açores e foi diretor das Operações Aéreas do Comando Aéreo. Antes foi piloto instrutor e, entre outras competências, realizou mais de 1.600 horas de voo em aviões F-16 e adquiriu todas as qualificações em F-16A.
Com um mandato de dois anos, iniciado em setembro de 2022, a EUTM-MOZ vai avaliar, com as autoridades moçambicanas, o futuro da sua presença em Moçambique, até ao final deste ano, tendo já formado cerca de 60 instrutores moçambicanos que vão continuar o treino de forças especiais do país, avançou, em julho, o também português comodoro fuzileiro Rogério Paulo Figueira Martins de Brito.
Além de proporcionar treino operativo para a formação de forças de reação rápida (QRF, em inglês), a EUTM-MOZ tem também fornecido equipamento de combate aos membros dessas unidades, ultrapassando já 80 milhões de euros o valor do apoio material prestado.
O mandato da EUTM-MOZ prevê a formação de 11 unidades de QRF moçambicanas, sendo que cada uma tem uma composição equivalente a uma companhia militar.
A atual missão é constituída por um contingente de 117 pessoas, 65 das quais de Portugal, país que também assume o comando da EUTM-MOZ.
A província de Cabo Delgado enfrenta há quase seis anos a insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos, ACLED.
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