Nagorno-Karabakh. Quase metade da população refugiada na Arménia

Quase metade da população da região de Nagorno-Karabakh, no Cáucaso, fugiu para a Arménia, desde a ofensiva relâmpago do Azerbaijão, na semana passada, que acabou com os sonhos de independência dos separatistas arménios daquele enclave.

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© ALAIN JOCARD/AFP via Getty Images

Lusa
27/09/2023 20:00 ‧ 27/09/2023 por Lusa

Mundo

Nagorno-Karabakh

São agora 53.629 os refugiados na Arménia, de acordo com novos dados hoje divulgados por Erevan, na sequência da operação militar azeri que se saldou em mais de 400 mortos de ambos os lados.

Para agravar a situação, há ainda mais de 100 pessoas desaparecidas desde a explosão de um depósito de combustível invadido pelos habitantes na segunda-feira à noite, em pleno êxodo. O balançou cifrou-se em 68 mortos e 290 feridos.

O Azerbaijão tinha aberto no dia anterior a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Arménia, quatro dias após a capitulação dos separatistas e um acordo de cessar-fogo que colocou sob o controlo de Baku a região de cerca de 120.000 habitantes, na maioria arménios.

As autoridades comprometeram-se a permitir a saída do território dos rebeldes que entregassem as armas. No entanto, detiveram hoje o empresário Ruben Vardanyan, que liderou o Governo separatista do enclave entre novembro de 2022 e fevereiro deste ano, quando este se dirigia para a Arménia.

Do outro lado da fronteira, reina o caos. Primeira etapa do percurso para a maioria, a cidade de Goris está irreconhecível: centenas de veículos enchem as ruas, helicópteros sobrevoam a zona.

"Há milhares de refugiados em Goris neste momento. Dar um número exato é impossível, eles vão e vêm", disse a vice-presidente da câmara da cidade, Irina Yolian, citada pela agência de notícias francesa AFP.

Muitos refugiados famintos passaram a noite nos seus veículos e dizem que não têm onde dormir nem para onde ir na Arménia.

Alekhan Hambardzyumyan, de 72 anos, dormiu na sua carrinha. O reformado, com dentes de ouro e um casaco desbotado com as cores de uma equipa de basebol americana, chora a morte do filho nos últimos combates.

A ofensiva fez 213 mortos do lado dos separatistas arménios, e Baku indicou ter perdido 192 soldados e um civil na operação militar.

"Quero ir para Erevan, mas não sei o que o Estado tem para me oferecer", explicou.

O primeiro-ministro arménio, Nikol Pachinian, declarou estar disposto a acolher 40.000 refugiados no seu país de 2,9 milhões de habitantes.

No entanto, até à data, o Governo só conseguiu alojar 2850 pessoas, o que faz prever uma crise humanitária.

"A Arménia tem falta de recursos e não conseguirá enfrentar a situação sem ajuda externa", sustentou o analista político Boris Navasardyan, entrevistado pela AFP.

Para Navasardyan, esta situação "vai ter graves repercussões na arena política", com um "descontentamento generalizado" em fundo.

A capital, Erevan, tem sido nos últimos dias palco de uma série de manifestações contra um primeiro-ministro acusado de passividade em relação ao Azerbaijão.

Nikol Pachinian tem também de lidar com a Rússia, que tem uma importante base militar na Arménia e vê o Cáucaso como território seu, embora a sua influência tenha diminuído desde que invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022.

"É impossível ignorar completamente os interesses da Rússia no Cáucaso", disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, à agência de notícias estatal russa TASS.

No terreno, a sociedade civil arménia está a organizar-se sem esperar pelo Estado e, no caso da pequena cidade de Goris, este não é o seu primeiro êxodo: já acolheu refugiados durante as anteriores guerras de Nagorno-Karabakh que opuseram as duas antigas repúblicas soviéticas, a Arménia de maioria cristã e o Azerbaijão de maioria muçulmana, entre 1988 e 1994 (30.000 mortos) e no outono de 2020 (6.500 mortos).

Àqueles que decidiram ficar, o Presidente azeri, Ilham Aliev, prometeu que os direitos dos arménios do enclave, anexado ao Azerbaijão em 1921, seriam "garantidos".

Após o apelo para proteger os civis emitido na terça-feira pelo chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, a sua homóloga alemã, Annalena Baerbock, exortou Baku a autorizar os observadores internacionais a entrar no enclave montanhoso.

"As crianças, as mulheres e os homens de Nagorno-Karabakh devem poder ficar nas suas casas e na sua pátria em paz e com dignidade", defendeu a ministra alemã.

Leia Também: Nagorno-Karabakh: Médicos Sem Fronteiras preparados para prestar apoio

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