Num briefing à imprensa em Nova Iorque, Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, apresentou detalhes sobre a visita da missão da ONU à região, que, apesar de ter sido uma viagem de apenas um dia, deu para "ver bastante".
"Os nossos colegas ficaram impressionados com a forma repentina como a população local fugiu das suas casas e com o sofrimento que a experiência lhes deve ter causado", disse Dujarric, salientando que a equipa não encontrou quaisquer relatos -- quer da população local, quer de outros -- de violência contra civis após o último cessar-fogo.
"Nenhuma destruição de infraestruturas agrícolas ou animais mortos foram vistos pelos membros da equipa da ONU", acrescentou.
A missão visitou a cidade de Khankendi, onde a equipa se reuniu com pessoas e representantes da comunidade e pôde ver em primeira mão a situação em matéria de saúde e educação.
"Em partes da cidade visitadas pela equipa, eles não viram danos a infraestruturas públicas civis, incluindo hospitais, escolas e habitações, ou a infraestruturas culturais e religiosas. No entanto, nenhuma loja parecia estar aberta. A missão também constatou que o Governo da República do Azerbaijão se preparava para a retomada dos serviços de saúde e de alguns serviços básicos na cidade", informou Dujarric.
A equipa também ouviu dos representantes das comunidades que "entre 50 e 1.000" cidadãos de origem arménia permanecem atualmente em Karabakh.
A equipa das Nações Unidas sublinhou a necessidade de se "reconstruir confiança", acrescentando que isso exigirá "tempo e esforço de todas as partes".
Também percorreu a estrada de Lachin até à passagem da fronteira com o Azerbaijão -- uma viagem que foi feita por mais de 100 mil pessoas de origem arménia nos últimos dias -- e a equipa não encontrou quaisquer veículos civis.
Ao passar por Aghdam, que faz parte dos territórios recuperados em 2020, membros da equipa da ONU "observaram a destruição, bem como os esforços de reconstrução que estão a ser feitos pelo Governo do Azerbaijão", apontou o porta-voz, acrescentando que a ONU planeia continuar a visitar regularmente a região.
Uma missão da ONU chegou no domingo a Nagorno-Karabakh para avaliar a situação humanitária neste território, após a fuga na semana passada de mais de 100 mil arménios do enclave, que pertence ao Azerbaijão, informou hoje a Presidência azeri.
A missão chegou ao enclave em seis veículos da ONU pela rodovia Agdam-Askeran, segundo imagens de vídeo divulgadas pela agência de notícias local APA.
Após uma ofensiva das forças azeris em 19 de setembro que provocou cerca de 600 mortos, a quase totalidade da população arménia abandonou precipitadamente a república autoproclamada do Artsakh (Nagorno-Karabakh), que anunciou a sua dissolução para 01 de janeiro de 2024.
Após o final do império czarista russo em 1917, esta região montanhosa com larga maioria de população arménia, que a considera ancestral, foi integrada no Azerbaijão. Em 1991, proclamou unilateralmente a independência após a queda da União Soviética, com o apoio da Arménia.
Os separatistas do Nagorno-Karabakh opuseram-se durante mais de três décadas a Baku, em particular no decurso de duas guerras entre 1988 e 1994, e no outono de 2020. A autoproclamada república nunca foi reconhecida pelas instâncias internacionais.
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