"Em Mocímboa da Praia, sem dúvida. Na festa final, vai ser expressa a vontade popular, a vontade dos munícipes", afirmou Sérgio Domingos Cipriano, em declarações à Lusa a poucos dias das sextas eleições autárquicas.
Aquele distrito foi o primeiro palco dos ataques, em 05 de outubro de 2017, dos grupos armados que protagonizam incursões em Cabo Delgado. A vila sede de Mocímboa da Praia chegou mesmo a funcionar como quartel-general dos rebeldes durante pouco mais de ano, até ser recuperada, em agosto de 2021, pela ação conjunta das forças governamentais moçambicanas e do Ruanda.
Nos últimos dias, a mesma vila foi tomada, mas pela campanha eleitoral, com reforço de segurança, mas sem incidentes, garantiu o administrador: "Sem nenhum problema, sem nenhuma dificuldade (...) Queremos um comportamento ordeiro, como está até agora".
Com a intervenção militar no terreno, que levou em agosto à morte de vários líderes do grupo terrorista que opera em Cabo Delgado, incluindo o número um, o moçambicano Bonomade Omar, o administrador de Mocímboa da Praia garante que o "clima de paz está cada vez mais próximo" de Cabo Delgado.
"A direção dos terroristas foi desfeita, completamente. Pode existir uma ou outra resistência, com menos força (...) eles estão desesperados neste momento", acrescentou Sérgio Domingos Cipriano, numa alusão aos ataques que continuam a ser reivindicados pelo Estado Islâmico junto a aldeias isoladas de Mocímboa da Praia, desde agosto, incluindo contra militares, esta semana.
Apesar de serem pequenos ataques, alguns em "vingança" à morte do líder do grupo terrorista, Sérgio Domingos Cipriano admite que algumas populações afastadas têm preferido refugiar-se na vila nas últimas semanas, mas que também querem agora regressar aos locais de origem.
"O que nós pedimos é que as armas sejam entregues à polícia, que eles [insurgentes] voltem, que nós vamos recebê-los nas comunidades, na sociedade", apelou ainda.
Em Mocímboa da Praia estão inscritos para votar nas autárquicas de 11 de outubro, segundo dados da Comissão Nacional de Eleições (CNE), 30.438 eleitores, distribuídos por seis locais e 45 assembleias de voto.
Concorrem naquela vila Paulo Weng San, que lidera a lista da Associação dos Naturais, Amigos e Simpatizantes de Mocímboa da Praia (Umoja), Helena Bandeira, pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Saide Sulia, pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e Selemane Omar, pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Mais de 11.500 candidatos de 11 partidos políticos, três coligações de partidos e oito grupos de cidadãos estão em campanha eleitoral até domingo para as sextas autárquicas moçambicanas de 11 de outubro, por entre apelos a um processo pacífico.
Mais de 8,7 milhões de eleitores moçambicanos estão inscritos para votar em todo o país nas sextas eleições autárquicas, segundo dados anteriores da CNE.
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