"Não sei como escrever sobre o sofrimento e a dor infligidos à minha família. Quando entrei na prisão, era uma pessoa saudável, mas quando saí da prisão estava frágil e dominada por uma doença para a qual não consigo encontrar um remédio ou uma cura", escreveu Narges Mohammadi em 2011, denunciando a falta de condições no estabelecimento prisional iraniano onde se encontrava.
Com regularidade, a defensora dos direitos humanos iraniana tem alertado e criticado a situação "lamentável" em que se encontram os reclusos no Irão e tem assinado dezenas de artigos sobre maus tratos e torturas de que têm sido alvo, apesar de enfrentar sérios problemas cardíacos.
Ao longo dos últimos anos, o regime de Teerão deteve 13 vezes a Prémio Nobel da Paz Narges Mohammadi, condenada cinco vezes e estando atualmente a cumprir uma sentença de 16 anos de cadeia.
Narges Mohammadi nasceu a 21 de abril de 1972, em Zanjan, cidade situada a noroeste de Teerão.
Depois de terminar o liceu em Zanjan, foi admitida na Universidade Khomeini em Qazvin e licenciou-se em Física.
Na universidade foi uma das fundadoras da organização de reflexão estudantil e desempenhou um papel ativo num grupo de estudantes cujo objetivo era escalar as montanhas mais altas do Irão, mas devido às atividades políticas que começou a desempenhar não foi autorizada a participar nas escaladas.
Durante os anos que passou na universidade, foi detida duas vezes.
O professor de estudos iranianos da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, Muhammad Sahimi, destacava em 2012 num texto citado pela televisão pública norte-americana PBS o percurso dos protestos das mulheres do Irão desde a Revolução Islâmica (1979) apontando em particular a atividade de Narges Mohammadi.
Sahimi referia que Mohammadi iniciou a carreira como jornalista, escrevendo para a Payaam-e Haajar, uma revista dedicada às questões das mulheres no Irão.
A revista era publicada por Azam Alaei Taleghani, filha do ayatollah Seyyed Mahmoud Alaei Taleghani (1911-1979), clérigo progressista e conhecido apoiante do ex-primeiro-ministro Mohammad Mosaddegh (1882-1966), deposto pela CIA, serviços de informações dos Estados Unidos na "Operação Ajax" com o apoio do Reino Unido, em 1953.
A revista foi encerrada em abril de 2000 pelo regime.
Mohammadi escreveu inúmeras vezes sobre os direitos humanos, os direitos das mulheres e sobre questões relacionadas com os estudantes universitários, tendo publicado igualmente vários trabalhos em publicações reformistas, que acabaram todas por ser encerradas.
Em 1999, casou-se com o jornalista e teórico Taghi Rahmani, que conhecera na universidade com quem tem dois filhos, os gémeos Ali e Kiana.
A ativista de 51 anos "é a pessoa mais determinada que conheço", disse à France Presse o marido Taghi Rahmani, refugiado em França desde 2012 com os gémeos, atualmente com 17 anos de idade.
Mohammadi, vice-diretora do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, foi distinguida recentemente pela UNESCO e pela organização Repórteres Sem Fronteiras.
"Narges teve a oportunidade de deixar o país, mas recusou sempre (...) tornou-se a voz dos que não têm voz. Mesmo na prisão, nunca esquece os seus deveres e informa as pessoas sobre a situação dos prisioneiros", afirma Reza Moini, um ativista de direitos humanos iraniano, refugiados em Paris, em declarações à France Presse.
Num livro intitulado "Tortura Branca", Mohammadi denuncia as condições em que são mantidas as prisioneiras, nomeadamente em regime de solitária, um abuso que ela própria diz ter sofrido.
Segundo o marido, Mohammadi está atualmente detida na secção feminina da prisão de Evin, juntamente com cerca de cinquenta outras prisioneiras.
No ano passado, após a morte da jovem de origem curda, Masha Amini, morta pela polícia por não cumprir o código de indumentária imposto por Teerão, solidarizou-se com a indignação.
Dois meses antes do início dos protestos, em 16 de setembro de 2022, Narges Mohammadi publicou um texto na rede social Instagram, numa conta gerida pela família, opondo-se firmemente ao uso obrigatório do 'hijab'.
O texto dizia: "Neste regime autoritário, as vozes das mulheres são proibidas, o cabelo das mulheres é proibido (...) Eu, Narges Mohammadi (...) declaro que não aceitarei o 'hijab' obrigatório".
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