Em causa está a continuidade num terceiro e inédito mandato do partido conservador populista PiS, liderado pelo dirigente histórico Jaroslaw Kaczynski, e a alternativa dos liberais da Plataforma Cívica PO), de Donald Tusk, ex-presidente do Conselho europeu e ex-primeiro-ministro.
Na sexta-feira à noite, Kaczynski e Tusk desdobraram-se em comícios e ações de campanha, conscientes de que as sondagens dão uma curta vantagem de quatro pontos percentuais para os populistas e que as margens são muito estreitas para que, ganhe quem ganhar, consigam governar sozinhos.
Em paralelo, as forças mais pequenas fizeram o mesmo, galvanizadas pelas últimas pesquisas de opinião, que dão resultados acima dos 10% aos conservadores da Terceira Via e à coligação Esquerda, mas apenas 8% à Confederação (extrema-direita), que tem vindo a perder nas intenções de voto ao longo da campanha e sua capacidade de se tornar determinante no desfecho eleitoral.
Num cenário improvável antes da campanha eleitoral, os números começam a desenhar a viabilidade de um cenário de uma espécie de "geringonça polaca", unindo o PO, a Terceira Via e a Esquerda, mesmo que o PiS consiga ganhar o escrutínio e beneficie do apoio da extrema-direita.
Numa campanha dura e em grande parte negativa, o PiS esforça-se por colar a coligação de Tusk à imagem de traidora da Polónia e "personificação do mal", que, por sua vez, devolve a acusação ao clamar que esta é a última oportunidade para salvar a democracia na Polónia.
Na agenda do PO também estão temas tabus para os conservadores sobre despenalização do aborto e direitos das pessoas LGBTQ+, no país mais católico da Europa.
Tanto os políticos como a generalidade dos analistas preferem lidar com um cenário de incerteza até ao último minuto, depois do encerramento das urnas às 21:00 locais (menos uma em Lisboa) e até aos resultados finais que só devem ser conhecidos na terça-feira.
Nestas eleições joga-se também a avaliação do exercício do poder do PiS, acusado de sequestrar ao longo de oito anos o setor estatal e da administração pública, manipulando a justiça e a independência dos juízes, o que valeu a Varsóvia o congelamento de fundos comunitários por desvios ao estado de direito.
Face ao europeísta Donald Tusk, que quer ver a Polónia reencaixar-se na harmonia dos 27, o partido no Governo tem reforçado a sua atitude de resistência a Bruxelas, quando, já com as eleições à vista, recusou a determinação comunitária de levantar o bloqueio aos cereais da Ucrânia, num gesto de proteção aos seus agricultores, cujo sindicato representa mais de dois milhões de votos.
Já depois disso, as autoridades polacas recusaram-se a aplicar o acordo sobre o pacto migratório europeu, reiterando que os planos de relocalização de imigrantes propostos por Bruxelas transformariam, nas palavras do primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki, "as ruas polacas em campos de batalha" e dariam origem a "imagens como as de Paris mas em Varsóvia".
A imigração descontrolada é apresentada pela Polónia como a grande ameaça à segurança europeia que Bruxelas não sabe compreender, numa narrativa que ficou em causa com o escândalo da trama de corrupção diplomática polaca que supostamente vendeu mais de 250 mil vistos a imigrantes do Médio Oriente e África, que são separados enquanto "ameaça" do acolhimento pacífico de cerca de um milhão de refugiados ucranianos ou exilados políticos bielorrussos no país.
A Polónia assumiu o papel de "guardiã da fronteira oriental da UE" ao proteger a fronteira com a Bielorrússia, sobretudo desde a guerra na Ucrânia, com a construção de um muro de vigilância e o destacamento de dez mil militares para a região.
Esta postura musculada tem merecido amplas críticas da oposição e de ativistas, que apontam a desumanidade no tratamento aos migrantes africanos e do Médio Oriente, estimulados pelo Governo autocrático de Alexander Lukashenko na Bielorrússia ao usar o seu país como trânsito para forçar as fronteiras polacas, onde são deixados à sua sorte, inclusive até à morte.
As críticas, vêm de "idiotas úteis que beneficiam Moscovo", segundo o primeiro-ministro, que já foi conselheiro económico de Tusk antes de mudar de lado, sinalizando o inimigo externo, em Moscovo e Minsk, mas também em Bruxelas ou Berlim, na forma como o líder do PO é descrito como alguém subserviente aos interesses contrários aos polacos e apontado de forma depreciativa como "Herr Tusk".
No fim da campanha, dois dos principais comandantes militares do país demitiram-se, num gesto que foi interpretado como um sinal de rutura em relação a sucessivas interferências políticas no Exército.
A migração tem sido um dos temas-chave das legislativas, pelas suas implicações domésticas e relações com a União Europeia, e merece duas perguntas nos quatro referendos a realizar no domingo, um sobre a barreira com a fronteira com a Bielorrússia, outro ainda mais polémico, que menciona "a admissão de milhares de imigrantes ilegais do Médio Oriente e de África", de acordo com o mecanismo de relocalização forçada "imposto pela burocracia europeia".
Os referendos -- que incluem ainda duas perguntas sobre o aumento da idade de reforma para os 67 anos e a privatização de ativos estatais - só serão vinculativos com uma participação acima dos 50%, o que levou a oposição a apelar para o seu boicote.
A inflação a dois dígitos e os custos galopantes da energia pesam na carteira dos polacos, mas os temas económicos quase passaram ao lado da campanha, em que se procurou marcar as diferenças em questões ideológicas e sistémicas para os próximos anos.
Serão eleitos 460 deputados e 100 senadores em 41 distritos eleitorais. Os partidos que obtiverem menos de 5% dos votos e as coligações com menos de 8% de apoio ficarão sem representação parlamentar.
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