Israel. Conflito com mais perguntas do que respostas, diz analista

Um analista do International Crises Grupo (ICG) defendeu hoje que o exército israelita e o movimento xiita libanês Hezbollah "não estão à vontade" para abrir uma segunda frente na guerra contra o Hamas, salientando que tudo depende, porém, do Irão.

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© Doaa Albaz/Anadolu via Getty Images

Lusa
24/10/2023 16:51 ‧ 24/10/2023 por Lusa

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Num 'webinar' subordinado ao tema "Israel, Gaza e a Região: A Perspetiva do Crisis Group Sobre os Últimos Acontecimentos", Joost Hiltermann, diretor do Programa do ICG para o Médio Oriente e Norte de África, sublinhou que apesar de haver "uma pequena escalada" nos confrontos na fronteira israelita com o Líbano, "ninguém ainda passou a linha vermelha".

"Israel e o Hezbollah não se sentem à vontade para desencadear uma escalada, mas tudo é volátil e pode mudar rapidamente se o Irão vir que o Hamas [movimento islamita que lançou o ataque a Israel em 07 deste mês] poderá estar em perigo com uma eventual ofensiva terrestre do exército israelita", afirmou Hiltermann.

A este propósito, Mairav Zonszein, analista sénior do ICG para Israel, realçou que os Estados Unidos têm desempenhado "um papel de travão" nas intenções israelitas de "tentar aniquilar" o Hamas, que controla Gaza desde 2007 e que Washington, bem como a União Europeia (UE), consideram como um "movimento terrorista".

Para Zonszein, os EUA têm eleições dentro de cerca de um ano e querem ver primeiro resolvida a questão das estimadas três dezenas de reféns norte-americanos em poder do Hamas, impondo, por essa razão, um "travão", insistiu, o adiamento da ofensiva, usando também como "arma" o facto de 70% dos israelitas acreditarem que o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, já a braços com processos judiciais associados a corrupção, não tem poder para forçar um ataque ao movimento islamita.

Além disso, e admitindo que a ofensiva terrestre poderá ser uma questão de tempo, prosseguiu, a população israelita está igualmente "incrédula e, por isso, preocupada" com o "falhanço" dos serviços secretos israelitas por não ter sido capaz de prever o ataque do Hamas.

Por outro lado, há as questões do cessar-fogo, que ninguém quer assumir ("mais uma pergunta sem resposta", sublinhou Hiltermann), da libertação de reféns ("que exige tempo", frisou Tahani Mustafa, igualmente analista sénior do ICG para a Palestina, que também participou na sessão) e dos crimes contra a humanidade ("cometidas assumidamente pelas duas partes", salientou Zonszein).

Condenando o grau desproporcional de retaliação de Israel ao ataque do Hamas, Hiltermann, Zonszein e Mustafa advertiram que os movimentos 'jihadistas' patrocinados pelo Irão (Hamas, Hezbollah e Jihad Islâmica, bem como as milícias Huthis, no Iémen) já deixaram claro que estão prontos a atacar Israel e a abrir novas frentes de combate assim que Teerão der "luz verde".

No entanto, referiram os três oradores, um alastramento do conflito ao Líbano, Jordânia, Egito e Iraque "não é do interesse de ninguém", depositando-se esperanças numa reaproximação entre o Irão (que tem pretensões hegemónicas na região) e a Arábia Saudita, ultrapassando os esforços de Israel na criação de relações com Riade.

De qualquer forma, para Mustafa, a questão ganha maior complexidade com a divisão que existe na própria Palestina, com o Hamas de um lado e a Fatah do outro, gorando as expectativas da formação de um Estado palestiniano independente pois parece não haver qualquer consenso para a escolha de um líder sem que haja, antes, uma reconciliação, "o que parece muito improvável".

"A própria Fatah está fragmentada e o Hamas também não reúne consensos internamente", explicou Mustafa, lembrando que as eleições de 2021 prometiam uma reconciliação, que não aconteceu, pois "nem os próprios palestinianos conseguem definir que tipo de liderança querem para um Estado independente".

Mas se a situação interna na dividida Palestina dificulta uma solução, Israel também está fragmentado, politica e militarmente, embora um eventual afastamento de Netanyahu, que lidera um governo de extrema-direita, "pareça estar longe", pois ninguém à esquerda se perfila como alternativa.

"Netanyahu está há 15 anos no poder e novas eleições [em Israel] só daqui a três anos. Ninguém acredita que [Netanyahu] vá resolver o conflito, mas ninguém se perfila como alternativa", insistiu Zonszein.

"Parece que todas as partes estão divididas, o que torna a questão ainda mais complexa", resumiu Lahib Higel, igualmente analista sénior do ICG para o Iraque, que serviu como moderadora no "webinar" e que admitiu que a atual situação no Médio Oriente "tem mais perguntas do que respostas".

Leia Também: Dois terços dos estabelecimentos de saúde em Gaza não funcionam, diz OMS

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