Após uma série de reuniões em Bruxelas - algumas das quais com a participação dos líderes de França, Alemanha e Itália - o primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, e o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, acabaram hoje a trocar acusações pela falta de progressos, à semelhança do que vêm a fazer há meses.
Kurti afirmou que Vucic se recusou a assinar o acordo de fevereiro, destinado a normalizar as relações bilaterais, bem como um plano de ação para fazer funcionar o acordo.
"A aceitação implica uma assinatura; só a assinatura implica a aceitação e garante a implementação", afirmou Kurti através de um comunicado.
Vucic rejeitou a acusação, a que chamou "truques" do seu interlocutor, explicando que "não se trata de assinar ou não assinar".
"Alguém está a fazer jogos para atirar as culpas para o outro lado", afirmou.
As reuniões em Bruxelas decorrem à margem de uma cimeira de chefes de governo e de Estado da UE, que se reuniram hoje e sexta-feira em Bruxelas para debater, entre outros assuntos, as tensões no Médio Oriente.
Várias capitais europeias temem o recomeço da violência que tem marcado as relações entre o Kosovo e a Sérvia desde a separação unilateral kosovar em 2008. Belgrado continua a considerar o Kosovo uma província sérvia e nunca reconheceu a sua independência.
Tanto o Kosovo como a Sérvia querem aderir à UE, mas foram avisados de que primeiro têm de resolver as suas divergências.
A mediação europeia tem estado particularmente ativa desde o tiroteio em 24 de setembro último, dia em que cerca de 30 homens armados sérvios entraram no norte do Kosovo, mataram um polícia e montaram barricadas. Três homens armados foram mortos no tiroteio com a polícia kosovar.
Kurti afirmou que os autores do ataque, nomeadamente o seu líder, Milan Radoicic, tinham fugido para a Sérvia e deviam ser extraditados para o Kosovo para serem julgados.
Radoicic foi detido no início deste mês na Sérvia por pouco tempo e libertado depois de interrogado.
As conversações de hoje tiveram como principal ponto de agenda a implementação do acordo que Vucic e Kurti assinaram em fevereiro, ainda que ambos tenham levantado questões sobre o mesmo.
Era suposto que os dois líderes hoje trabalhassem em novas "propostas e ideias" apresentadas em conversações exploratórias no passado fim-de-semana, mas nem Vucic nem Kurti querem aparecer como os primeiros a fazer concessões sem garantias de que o outro irá retribuir.
A UE e os Estados Unidos estão a pressionar o Kosovo para permitir a criação de uma Associação de Municípios de Maioria Sérvia para coordenar o trabalho em matéria de educação, cuidados de saúde, ordenamento do território e desenvolvimento económico nas comunidades do norte do Kosovo maioritariamente povoadas por sérvios, mas Kurti receia que essa associação seja um passo para a criação de um mini-Estado sérvio com ampla autonomia.
Vucic voltou hoje acusar Kurti do impasse neste ponto, sublinhando ser "completamente claro quem não quer formar a Associação de Municípios de Maioria Sérvia".
A guerra entre a Sérvia e o Kosovo em 1998-99 fez mais de 10 mil mortos, na sua maioria albaneses do Kosovo.
Mesmo com as esperanças de adesão de ambos os países em dúvida devido ao impasse na implementação do acordo bilateral, Kurti reiterou hoje que o Kosovo merece receber oficialmente o estatuto de candidato à adesão à UE devido ao "seu progresso democrático e económico".
Leia Também: UE apresenta plano para resolver diferendo entre Sérvia e Kosovo