"Embora muita atenção internacional esteja justamente concentrada nos graves acontecimentos no Médio Oriente, é importante que não percamos o foco noutras crises, especialmente numa tão brutal e de grande alcance como a (...) guerra na Ucrânia. (...) Este conflito continua a infligir níveis inimagináveis de sofrimento", disse o diretor de coordenação do OCHA, Ramesh Rajasingham, perante o Conselho de Segurança da ONU.
À medida que o inverno se aproxima e as temperaturas começam a descer abaixo de zero, as necessidades humanitárias serão ampliadas, com os idosos, as pessoas com deficiência e os deslocados que vivem em centros coletivos a estarem em maior risco, alertou Rajasingham, que falou ao Conselho de Segurança em nome do subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.
O funcionário da ONU indicou que os ataques russos contra infraestruturas portuárias do Mar Negro e do Rio Danúbio têm continuado, resultando em impactos na exportação de cereais e outros produtos alimentares.
"Num momento de níveis surpreendentes de fome em todo o mundo, é imperativo que todas as fontes de abastecimento alimentar estejam ligadas de forma segura e sustentável às cadeias de abastecimento globais. (...) Qualquer escalada mais ampla da situação no Mar Negro poderá ter consequências globais de longo alcance", frisou Rajasingham.???????
Um ano e meio depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, "atualmente 18 milhões de pessoas, ou 40% da população, necessitam de alguma forma de ajuda humanitária", observou.???????
Mas com a aproximação do inverno, "as necessidades humanitárias serão amplificadas", insistiu, salientando que o Plano de Resposta Humanitária da ONU para a Ucrânia em 2023, estimado em 3,9 mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros), foi financiado em cerca de dois mil milhões de euros.
O OCHA está particularmente preocupado com o destino de "quatro milhões de pessoas" em diversas regiões sob ocupação militar russa, onde "as necessidades são urgentes", mas o acesso é limitado.
"Como já dissemos, de acordo com o direito humanitário internacional, todas as partes devem permitir e facilitar o acesso rápido e desimpedido da assistência humanitária aos civis necessitados", pediu.
A reunião de hoje foi convocada pelo Equador e pela França para abordar a situação humanitária na Ucrânia, com vários países a manifestarem preocupação com o inverno que se aproxima e que colocará em risco serviços críticos, agravando a crise humanitária no país.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou, de acordo com os mais recentes dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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