O Governo paquistanês fixou o dia de hoje para começar a expulsar todos os migrantes em situação irregular -- incluindo 1,73 milhões de cidadãos afegãos.
Entretanto, e perante o caos instalado na fronteira, com milhares de pessoas concentradas nos principais postos de passagem, as autoridades de Islamabade alargaram o prazo até quinta-feira.
Findo esse prazo, qualquer migrante em situação irregular será levado para centros de detenção e posteriormente deportado.
Esta decisão, anunciada em 03 de outubro, faz parte de uma campanha anti-imigração que visa todos os estrangeiros indocumentados ou não registados.
Embora o Governo paquistanês garanta que não tem como alvo os afegãos, esta é a nacionalidade que constitui a maioria dos migrantes naquele país e a campanha surge num contexto de relações tensas entre o Paquistão e os governantes talibãs.
Islamabade acusa Cabul de fechar os olhos a militantes aliados dos talibãs, a quem dá abrigo no Afeganistão e a quem permite passagem livre de e para o Paquistão para realizar ataques, cenário que os talibãs negam.
Num comunicado divulgado hoje, o porta-voz do Governo dos talibãs instou o Paquistão e outros países a garantirem um tempo adequado para "não forçar" o repatriamento sem que as pessoas estejam "preparadas".
"Os países devem considerar a humanidade, a vizinhança e a irmandade islâmica", apela o Governo interino dos fundamentalistas islâmicos, recordando que os afegãos enfrentam agora "dificuldades e deportações forçadas" nos países onde têm procurado refúgio.
Os talibãs recordam ainda que as deportações põem em risco investimentos, negócios e capital dos afegãos, sobre os quais "ninguém tem direito a apoderar-se".
O Governo interino pede ainda a colaboração dos empresários afegãos com mais posses para facilitarem o regresso dos migrantes em causa, proporcionando-lhes transporte, alojamento e medicamentos, colaborando com as organizações humanitárias.
Segundo dados das Nações Unidas, mais de 200 mil migrantes afegãos já regressaram ao Afeganistão desde que este plano foi anunciado pelo Paquistão, no início de outubro.
Afeganistão e Paquistão partilham uma fronteira que se estende por cerca de 2.600 quilómetros.
Milhões de afegãos migraram para o Paquistão durante as quatro décadas de conflito armado no seu país. Pelo menos 600 mil fizeram-no desde que os talibãs regressaram ao poder em Cabul, em agosto de 2021.
Muitos têm medo de regressar ao Afeganistão, onde o Governo talibã impôs uma interpretação rigorosa do Islão, proibindo, por exemplo, o acesso de raparigas às escolas para lá do ensino primário ou a obrigação de as mulheres saírem à rua completamente cobertas.
Atualmente um dos países com mais refugiados no mundo, o Paquistão não assinou a Convenção sobre Refugiados das Nações Unidas (1951) e não dispõe de legislação específica para este grupo.
A campanha de expulsão do Paquistão suscitou críticas generalizadas de agências internacionais e grupos de direitos humanos.
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