Crise económica e Kosovo dominam legislativas antecipadas na Sérvia

O elevado custo de vida lidera as preocupações dos sérvios, mas a recente escalada de tensão com o Kosovo promete dominar o debate na campanha para as legislativas de 17 de dezembro, as terceiras eleições em menos de quatro anos.

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© Oliver Bunic/Bloomberg via Getty Images

Lusa
04/11/2023 08:22 ‧ 04/11/2023 por Lusa

Mundo

Sérvia

O Presidente Aleksandar Vucic, no poder há 11 anos (incluindo como primeiro-ministro), dissolveu o Parlamento esta semana e convocou eleições legislativas antecipadas -- o próximo escrutínio seria na primavera de 2026 -- e em cerca de 60 municípios, incluindo na capital, Belgrado, onde vive cerca de um terço da população de 6,5 milhões de pessoas.

Partidos pró-europeus de esquerda, centro e verdes envolvidos nos protestos contra a violência anunciaram uma "grande coligação", que, segundo o mesmo levantamento, teria o apoio de 41% dos eleitores, enquanto a coligação liderada pelo Presidente Vucic (Partido Progressista da Sérvia, Partido Socialista e Aliança dos Húngaros de Vojvodina) receberia 49% dos votos. Já o bloco da oposição de direita alcançaria 10% dos votos.

O principal objetivo do Partido da Liberdade e Justiça, terceira força política no Parlamento e uma das forças da coligação de centro-esquerda é melhorar o nível de vida e combater a violência e a corrupção que consideram dominar o regime de Vucic. "As pessoas estão fartas desta espiral de violência física, verbal, política e também contra as leis e a Constituição. Estão fartas dos preços elevados da comida, aumentaram 50% em dois anos. E estão fartas da corrupção", disse à Lusa Borko Stefanovic, para quem o país está mergulhado numa "ditadura informal".

"É sobre isto que vamos falar na campanha. Queremos trazer paz e estabilidade para a Sérvia. Sim, o país ficará diferente, mas será um país normal e sem corrupção", comentou.

Para Borco Stefanovic, o país está "a andar para trás".

Os partidos no poder "odeiam a Europa, a liberdade e a igualdade, amam a corrupção e a violência", Vucic domina "as cinco estações de televisão com difusão nacional", e todos os 132 municípios são controlados pelo Partido Progressista, exemplificou.

De acordo com um estudo de opinião da organização não-governamental (ONG) Centro de Pesquisa, Transparência e Responsabilidade (CRTA), conduzido entre finais de setembro e início de outubro, os cidadãos colocam a situação económica, nomeadamente o baixo nível de vida, o aumento dos preços e a inflação, como os maiores problemas.

"Embora 39 por cento dos inquiridos considerem a economia como uma das questões, é para 29 por cento deles o problema mais significativo que a Sérvia enfrenta hoje. O Kosovo foi listado como a principal preocupação por 23 por cento dos cidadãos, e é importante notar que o inquérito foi realizado durante os dias de uma crise de segurança no norte do Kosovo", refere a sondagem.

A decisão de convocar eleições antecipadas surgiu depois de, em maio, dois tiroteios no espaço de 48 horas terem causado a morte a 17 pessoas, desencadeando protestos repetidos, sob o slogan "Sérvia contra a Violência", e apelos da oposição para eleições. Segundo analistas, a recente escalada de tensão com Pristina, após a morte de um polícia do Kosovo num ataque armado, em 24 de setembro, precipitou a convocação de eleições.

Para a Frente Verde-Esquerda, que também integra a coligação pró-Ocidente, o regime de Vucic -- antigo ministro das Informações do líder sérvio Slobodan Milosevic, julgado por crimes de guerra em Haia -- a Sérvia caracteriza-se como "um regime híbrido, não democrático, com uma ausência do Estado de Direito", disse à Lusa o deputado Robert Kozman.

São preocupações do partido ecologista a insegurança devido "à ausência de instituições e de um Estado legal", a promoção de uma linguagem agressiva através dos media, nomeadamente contra a oposição, "a maior inflação da Europa" e uma "economia fraca", além "dos maiores problemas ecológicos", com "o ar mais poluído" entre os países europeus.

Conquistar a câmara de Belgrado é um objetivo que a coligação pró-europeia acredita estar ao alcance, um primeiro passo para "dentro de dois ou três anos" destronar a atual maioria. "O fim do regime está perto, eles já estão em rota descendente", asseverou Kozman.

Para a Aliança dos Húngaros de Vojvodina, partido minoritário no poder, as próximas eleições devem responder aos problemas de segurança, nomeadamente com migrantes naquela província do norte (fronteira com a Hungria), onde há "tráfico de seres humanos, sem que as autoridades atuem", apontou Elvira Kovacs, presidente da comissão parlamentar para a Integração Europeia.

Como partido pró-europeu, a Aliança afirma-se preocupada com o futuro da União Europeia, que tem "vários problemas", defende a adesão da Sérvia "o mais depressa possível", mas adverte que a organização "tem de fazer algumas reformas".

A soberania, sublinhou ainda, "é uma questão que deve ser considerada como tão importante como qualquer outra".

O Dveri ('Portas'), partido nacionalista e populista de direita, identifica como "os maiores problemas" que a Sérvia enfrenta atualmente a "ocupação do território sérvio do Kosovo e Metohija pela NATO", a "secessão ilegal do berço civilizacional [sérvio] ortodoxo-cristão", a "supressão da população sérvia" e a destruição da herança histórica sérvia, afirmou o responsável do partido para as Relações Internacionais, Andrej Mitic.

Outros problemas são "a hegemonia liberal de esquerda, o autoritarismo transumano-LGBT+ na educação e na vida pública, a falta de patriotismo económico e verde, a pobreza social e as políticas migratórias antidemocráticas", referiu.

O Dveri, acrescentou Andrej Mitic, defende "o respeito pelo Estado de Direito - a Constituição, soberania e integridade -, políticas familiares pró-tradição", "apoia a economia sérvia e políticas sociais responsáveis", e quer defender a "terra, ar e rios" sérvios "contra predadores multinacionais como a Rio Tinto, por exemplo".

Leia Também: Chefe das secretas da Sérvia demite-se alegando pressões do Ocidente

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